terça-feira, abril 16, 2024
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AEDES AEGYPTI: 220 mil homens das Forças Armadas vão visitar casas em todo o Brasil

Depois de afirmar que o Brasil está “perdendo feio” a batalha contra o mosquito Aedes aegypti e que o país enfrenta, com o avanço da zika, “uma das maiores crises de saúde pública” da história, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, disse na segunda-feira que as Forças Armadas vão pôr 220 mil homens para visitar todos os domicílios do país e entregar panfletos, e que o governo vai distribuir repelentes gratuitamente para 400 mil grávidas do Bolsa Família.

As iniciativas foram anunciadas no Palácio do Planalto, após reunião com a presidente Dilma Rousseff e com outros ministros que ficarão responsáveis por essas estratégias. Horas antes do encontro com Dilma, a declaração de Castro de que o governo está “perdendo feio” a batalha irritou a presidente. Indicado pelo PMDB para o ministério, com o objetivo de recompor a base aliada, ele já havia causado mal-estar no Planalto com outras declarações sobre o tema, a ponto de sua presença ter se tornado um incômodo.

— Estamos planejando colocar 220 mil homens das Forças Armadas, a partir de um dia determinado, que deverá ser 13 de fevereiro, para visitar casa por casa do Brasil distribuindo panfletos e orientando as pessoas, porque temos a consciência exata de que só seremos vitoriosos nessa luta se contarmos com a contribuição das pessoas — afirmou Castro.

‘INIMIGO NÚMERO UM’

Na quarta-feira, o ministro se encontrará com um fabricante de repelentes para calcular e estipular a quantidade necessária para atender às 400 mil grávidas beneficiárias do Bolsa Família e estudar a viabilidade da distribuição. Castro também anunciou que Dilma irá visitar, na próxima sexta, a Sala Nacional de Coordenação e Controle do Plano de Enfrentamento e Combate à Microcefalia, para participar de uma videoconferência com todos os governadores do país, que estarão nas salas estaduais. O objetivo é discutir estratégias contra o mosquito.

Após o encontro com a presidente, Castro classificou o Aedes como o “inimigo número um do país” e chamou a epidemia de “uma das maiores crises de Saúde Pública já vivida”.

— Forças Armadas, polícias militares, bombeiros, agentes comunitários, prefeitos, secretários estaduais, todos estão mobilizados contra o inimigo número um do Brasil hoje, que é o mosquito Aedes aegypti, o famoso mosquito da dengue — disse o ministro.

A declaração que irritou a presidente ocorreu num encontro à tarde com o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB).

— Nós estamos há três décadas com o mosquito aqui no Brasil e estamos perdendo feio a batalha para o mosquito. Ano passado foi o que teve o maior número de casos de dengue no Brasil em toda a história — disse Castro.

Já no Planalto, ele pôs a culpa da proliferação do mosquito na conta de governos anteriores. Apesar de deixar claro que seu objetivo não era “culpar ninguém”, ele lembrou que o Brasil já convive com o mosquito da dengue e da zika há 30 anos.

— Temos 30 anos de convivência com o mosquito do Aedes aegypti. Sem querer culpar ninguém, houve uma certa contemporização com o mosquito. Mas agora a situação é completamente diferente, porque, além da dengue, o mosquito está transmitindo a chicungunha e a zika. Não estou condenando ninguém, o fato é que o mosquito está convivendo conosco este tempo todo. E agora não podemos perder a batalha — disse Castro, negando que tenha levado qualquer “puxão de orelha” de Dilma por causa da frase sobre a perda da batalha contra o mosquito.

Na verdade, o país já convive com surtos do Aedes aegypti desde o início do século XX.

O ministro pediu a ajuda da população para o combate às doenças e afirmou que Dilma está preocupada com a crise.

— A presidenta está tão ou mais preocupada do que eu. E completamente envolvida (no combate à zika). Se a população não chamar para si uma das crises maiores de saúde pública já vivida em qualquer tempo no Brasil nós não seremos vitoriosos — afirmou ele.

Castro também disse que, como não existe vacina contra as doenças, a única forma de combater a epidemia é eliminar o mosquito. Ele citou cidades que foram bem sucedidas nessa luta e afirmou que pretende estender para todo o país um programa implementado em Goiás pelo governador tucano Marconi Perillo (PSDB), que monitora em tempo real o trabalho dos agentes de saúde pública.

RECORDE DE MORTES POR DENGUE EM 2015

Em 2015, foram mais de 1,6 milhão de casos prováveis de dengue no país, com registro de 863 mortes, um recorde. Em relação ao ano anterior (2014), houve aumento de 180,9% de pessoas doentes e de 82,5% nos casos de morte.

Castro repetiu que o uso de vacinas contra a doença ainda deve demorar.

— A arma fatal que nós podemos ter é a vacina, só que nós sabemos que uma vacina dessa daí, que nós já estamos com nossos laboratórios nacionais em contato para fazer parcerias com os laboratórios internacionais, por mais rápido que ande o desenvolvimento de uma vacina dessa, nós iremos demorar ainda de três a cinco anos, pelo menos, se tudo der certo. então, até lá, o que nos resta é o combate ao mosquito.

Ele disse também que o problema enfrentado é “grandemente” agravado pela presença do zika que, provoca, além de síndrome neurológica autoimune (guillain-barrè), a microcefalia.

— Uma enfermidade irreversível, incurável, que provoca retardo mental e que deixa a pessoa dependente o resto de sua vida com cuidados especiais.

OMS FAZ ALERTA

Em comunicado emitido na segunda-feira, a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou que o vírus zika vai se espalhar por todo o continente americano. Segundo a OMS, Canadá e Chile serão as duas exceções. De maio até agora, 21 países do continente registraram ocorrências do vírus. A OMS considera que a falta de imunidade natural no continente é um dos fatores para que o vírus se espalhe tão rapidamente.

“O vírus zika continuará a avançar e provavelmente alcançará todos os países e territórios na região onde mosquitos Aedes são encontrados”, afirma a OMS.

A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço da OMS nas Américas, confirmou que o vírus zika foi encontrado em sêmen, e que estuda um possível caso de transmissão sexual da doença. Na reunião do comitê executivo da OMS, em Genebra, a diretora Margaret Chan disse que o possível vínculo entre a infecção de grávidas e o nascimento de bebês com microcefalia “é motivo de preocupação”, apesar de ainda não comprovado.

O zika surgiu na África na década de 1940, se espalhou pela Ásia e teve sua aparição confirmada na América em maio do ano passado. Ontem, a multinacional farmacêutica GlaxoSmithKline informou que analisa a possibilidade de usar sua tecnologia para desenvolver uma vacina contra o vírus zika.

“Estamos concluindo os nossos estudos de viabilidade o mais rápido que pudermos para ver se a nossa estrutura tecnológica poderia ser adequada para o desenvolvimento da vacina contra o zika”, disse a representante da empresa Anna Padula, por e-mail. Ela não deu mais detalhes, mas disse que o desenvolvimento da vacina demora normalmente de 10 a 15 anos.

A francesa Sanofi, que ganhou no fim do ano passado a aprovação da Anvisa para a distribuição da primeira vacina contra a dengue, afirmou que está analisando a possibilidade de usar sua expertise contra o vírus zika

“No entanto, existem muitas incógnitas sobre zika para julgar de forma confiável a capacidade de pesquisar e desenvolver uma vacina eficaz”, disse representante da empresa, em janeiro.

No Brasil, de acordo com o diretor do Instituto Butantã, Jorge Kalil, a expectativa é de que a vacina possa ser registrada em um período de 3 a 5 anos, considerado um tempo curto. De acordo com o ministro da Saúde, Marcelo Castro, os laboratórios do Instituto Evandro Chagas, no Pará, e o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), do Rio, também estão em busca de parcerias com instituições científicas para a futura produção de uma vacina no país contra a doença.

EPIDEMIA DE FRASES INFELIZES

Não bastassem os problemas que tem enfrentado, como epidemias de zika e casos de microcefalia, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, há menos de quatro meses no cargo, anda tropeçando na língua e, desde que assumiu a pasta, coleciona gafes e frases infelizes. No repertório de Castro está, por exemplo, a pouco feliz brincadeira de que, na falta de vacina contra zika, seria bom que as mulheres pegassem a doença antes de engravidar e, assim, ficassem imunizadas. Ao comentar sobre o riscos da microcefalia para futuras mães, Castro disse que “sexo é para amador, gravidez é para profissional”.

Em janeiro, três novas gafes. A primeira foi durante a reunião da força-tarefa criada para combater o Aedes aegypti e a microcefalia, quando ele tentou descontrair o ambiente e contou uma piada que recebera a respeito do emprego de forças do Exército nessas ações.

— Dizia que devemos usar a Marinha, porque ele (o mosquito) se reproduz em água. E a Aeronáutica, porque ele voa — contou o ministro, diante de sorrisos constrangidos.

Na sequência, ao atender a imprensa, mais duas gafes, uma atrás da outra:

— Só temos um caminho para nos livrarmos, para evitarmos ter uma geração de sequelados no Brasil: é não deixar o mosquito nascer — afirmou, acrescentando depois, em tom de brincadeira:

— Vamos torcer para que as pessoas, antes de entrar no período fértil, peguem o zika, para ficarem imunizadas pelo próprio mosquito. Aí não precisa da vacina.

Em 18 de novembro do ano passado, após participar de uma conferência da Organização Mundial da Saúde (OMS) realizada em Brasília, Castro tachou de gravíssimo e preocupante o aumento do número de casos de microcefalia no país, em especial no Nordeste. E recomendou às mulheres muito cuidado na hora de decidir engravidar.

— Tomem os cuidados devidos quando forem engravidar. Sexo é para amador, gravidez é para profissional. A pessoa que vai engravidar precisa verdadeiramente tomar os devidos cuidados preparatórios antes e durante a gravidez.

Outro problema são as promessas. Em dezembro de 2015, o governo estabeleceu a meta de visitar todas as casas do país até 31 de janeiro deste ano para combater focos do Aedes aegypti. Em 13 de janeiro, o ministro garantiu que o objetivo seria cumprido no prazo.

Mas, nove dias depois, o secretário-executivo substituto do Ministério da Saúde, Neilton Oliveira, anunciou que não seria possível e anunciou o adiamento da meta para fim de fevereiro.

O Globo

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