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Paraense desaparecida desde 2016 está detida em região de conflito na Síria, diz Itamaraty

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A região vive novas tensões entre Estado Islâmico e curdos, após a retirada das tropas dos Estados Unidos do território sírio.

O Ministério das Relações Exteriores confirmou que a paraense Karina Ailyn Raiol Barbosa, desaparecida desde 2016, está detida em área desconhecida controlada pelos curdos no norte da Síria. A região vive novas tensões entre Estado Islâmico e curdos na guerra da Síria, após a retirada das tropas dos Estados Unidos do território sírio.

O desaparecimento da jovem de 23 anos, ex-estudante da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, é investigado pela Interpol e pela Polícia Federal, em Brasília. Karina saiu do país no dia 5 de abril de 2016, sem avisar os pais. Em 2014, ela iniciou curso de língua árabe quando ainda estava em Belém e se converteu, em 2015, ao islamismo.

À época do desaparecimento, os familiares de Karina foram ouvidos por investigadores, que trabalharam em parceria com a equipe de Belém. Atualmente, eles preferem não falar com a imprensa.

O caso continua em sigilo e poucas informações foram divulgadas pela Polícia Federal, até então. O inquérito foi encaminhado para a 15ª Vara de Justiça Federal, em Brasília.

A Polícia chegou a solicitar imagens das câmeras de segurança dos aeroportos de Belém e de Guarulhos, em São Paulo, por onde Karina saiu do país. Equipamentos pessoais da jovem, como computadores e anotações, também foram analisados.

Em nota, o Itamaraty disse que tem monitorado a situação em contato com autoridades sírias e organizações internacionais, como a Cruz Vermelha. “O contexto local e regional, agravado pelos episódios mais recentes, é muito instável, o que dificulta deslocamentos no terreno e contato direto com a pessoa em questão”, informou.

G1 solicitou mais informações à Embaixada do Brasil em Damasco, capital da Síria, mas não obteve resposta.

Entenda o caso

Polícia investiga desaparecimento de universitária paraense.

Familiares de Karina Barbosa disseram que ela saiu de casa às 10h do dia 4 de abril, levando apenas um casaco fino e uma sandália. O último contato com a jovem foi às 13h do dia 4. Karina informou que estava gravando vídeos para um trabalho na UFPA, onde cursava Comunicação Social Jornalismo. Em seguida, o telefone de Karina ficou fora de área. Por volta de 18h, os parentes foram até a universidade, mas não a encontraram.

No aeroporto, a família soube, com auxílio da polícia, que Karina havia tirado passaporte em dezembro de 2015. No dia 5, os parentes descobriram que Karina havia se afastado da universidade. De acordo com a UFPA, a estudante já não frequentava o curso. Apesar de não ter trancado a matrícula, Karina tinha muitas faltas, e no começo de fevereiro deixou de ir à aula.

A Polícia Federal informou que Karina embarcou em um voo para fora do Brasil, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, às 5h14 da terça-feira (5). “Buscamos as escalas e descobrimos que o avião pousou em Marrocos e Istambul”, diz Karen. A polícia, no entanto, não informou ao G1 o possível destino da estudante, e alegou que aguarda a informação da Interpol.

Segundo a polícia, Karina raiol saiu do Brasil no último dia 5 — Foto: Arquivo Pessoal/ Karen Raiol

“Nesse contato, ela estava muito nervosa. Aí eu disse: ‘Filha, onde você está?’. Ela me disse ‘Pai, eu não posso dizer isso senão eu vou ter problemas’. O que eu percebi nela foi muito medo e aquilo apavorou a gente”, revela Nerino de Almeida Barbosa, pai de Karina.

Isolamento e conversão ao islamismo

Câmera de celular registrou a conversão de Karina ao islamismo, em 2015. — Foto: Reprodução/ TV Liberal

Segundo a família, Karina era uma jovem tímida e caseira. Reclusa, ela não tinha muitos amigos e só costumava sair para ir à aula. De acordo com Karen, no começo da adolescência, a irmã sofreu de depressão e vivia isolada. “Ela fez tratamento, tomou remédios, e havia um pré-diagnóstico de esquizofrenia. Passaram até um exame cerebral, mas com o tempo ela melhorou e não fizemos”, relata.

Em 2014, Karina iniciou um curso de língua árabe que teria relação com a UFPA. Em seguida, passou a frequentar a mesquita de Belém. Em nota, a UFPA informou que segundo o professor Saif Mounssif, pesquisador da Faculdade de Engenharia Naval da universidade e integrante do Centro Islâmico Cultural do Pará, a estudante esteve, em 2014, em um curso de língua árabe oferecido pelo Centro e, pouco tempo depois, manifestou o desejo de conversão à religião muçulmana. Em abril de 2015, ela se converteu ao islamismo, e um vídeo pela câmera de um telefone celular mostra a cerimônia de conversão da estudante.

“Ela nos chamou, a mim e o pai para uma conversa inclusive ela estava nervosa e falou que queria se converter ao islamismo. Aí nos perguntamos por que e ela disse que foi onde encontrou Deus”, diz a mãe.

Mounssif, porém, ressalta que o curso de idioma não aborda questões políticas ou religiosas em relação ao Estado Islâmico. Segundo Saif, Karina deixou de frequentar o espaço em novembro de 2015.

“Eu comecei a me preocupar um pouquinho porque a gente sabe que um muçulmano recém-convertido, ele não pode ficar procurando informação em qualquer lugar. Ele não pode ficar na internet achando que lá só tem coisa boa”, esclarece.

“Ela gostava muito da comida árabe, gostava de todas as meninas, e ela não quis mais estar com a gente”, explica Vânia Mounsif, colega de mesquita.

Após o desaparecimento, a irmã descobriu outra atitude estranha de Karina ao acessar o celular dela: em uma rede social, a jovem comprou um niqab, vestimenta que deixa apenas os olhos visíveis. O traje, pouco visto no Brasil, é usado por mulheres muçulmanas em países onde a tradição islâmica é mais forte.

Terrorismo

Em mensagem escrita por Karina em uma rede social, ela opinou sobre o terrorismo. — Foto: Reprodução/ TV Liberal

Em busca por pistas, Karen foi atrás de outras pessoas com quem Karina ainda conversava e chegou até a professora do curso de inglês.

“Ela relatava sobre a situação do povo da Síria, como é que eles estão vivendo”, detalha a professora Danielly Silva Barbosa Silva.

Em uma das mensagem, a universitária criticava as condições de vida da população na cidade controlada pelo ditador Bashar Al Assad. Desde 2011 a Síria vive uma guerra civil entre tropas do governo e extremistas islâmicos.

“Agora eu penso nos ‘afortunados que conseguiram escapar dessa cidade, que outra opção eles têm senão se juntar aos grupos terroristas? É a única forma de lutar contra o governo porque os países ocidentais e árabes não estão fazendo nada”, escreveu.

“Ela estava falando que as pessoas acabam aderindo ao terrorismo, mas não que eles fossem pessoas ruins, mas eu não vi nada preocupante”, afirma Danielly.

O pai da universitária só vê uma única possibilidade para explicar a saída da filha do país.

“Eu tenho a certeza absoluta de que ela estava sendo orientada a fazer toda essa ação”, suspeita.

ClickPB

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