A delação da ex-secretária de Administração do Estado, Livânia Farias, sempre foi um mistério. Muitos se questionavam sobre o que, realmente, ela tinha dito aos promotores do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado, do Ministério Público da Paraíba. Sabia-se, no entanto, que ela contou muito. O blog teve acesso a vasto material e pôde constatar que ela falou bastante. Disse até que “trouxe umas mangas de Sousa para você” era a senha para que o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) soubesse que ela trazia propina, muita propina com dinheiro em espécie.
Em uma das oportunidades, o montante foi de R$ 800 mil, recebidos diretamente de Jardel Aderico, da Inteligência Relacional. O empresário foi preso na quinta fase da operação Calvário. Ele é acusado de envolvimento em esquema de desvio de recursos em contratos da Educação. O ex-governador foi preso na sétima fase da operação, que foi batizada de Juízo Final. Livânia conta que do mesmo Aderico recebeu mais R$ 1 milhão, que foram levados novamente em mãos e entregues ao governador na Granja Santana.
Estes casos ocorreram a partir de 2014, mas a origem das negociações de supostas propinas teria ocorrido muito antes. Antes de Aderico já estava no radar outro delator: o mandatário da Cruz Vermelha Brasileira, Daniel Gomes da Silva. Ele deu detalhes ao Ministério Público sobre supostos pagamentos de propinas negociadas diretamente com o agora ex-governador Ricardo Coutinho (PSB). Um esquema iniciado em 2010, com doações para campanha, e que teria se perpetuado para beneficiar também o atual governador, João Azevêdo (sem partido).
Livânia conta que conheceu Daniel ainda em 2010, trazido à Paraíba através do ex-senador Ney Suassuna. A apresentação foi intermediada por Fabrício Suassuna, filho de Ney. De lá, ele foi conversar com Ricardo Coutinho, segundo a delação. Na conversa, prometeu ajuda para a campanha daquele ano. Naquele momento, ainda não havia contrato com a Cruz Vermelha Brasileira. Ricardo teria mandado ele acertar tudo com Livânia. Ela fala no repasse de R$ 200 mil.
Livânia contou que em meio às negociações, após os contratos firmados, Daniel Gomes perguntou quanto ela queria que fosse acrescentado nos contratos a título de propina. Foi definido um repasse de pouco mais de R$ 300 mil por mês, que eram pagos muitas vezes de forma acumulada. Os contratos até 2018 consumiram do Estado algo em torno de R$ 1,2 bilhão.
Livânia conta que no fim do ano passado, foi abordada por Daniel Gomes, que queria falar urgentemente com Coriolano Coutinho, irmão do ex-governador. Ela garante que a -coisa- que ele dizia ter em mãos para entregar era dinheiro de propina.
Livânia contou, também, que houve acumulação de valores pagos, a título de propina, pelos contratos da Cruz Vermelha Brasileira e o Instituto de Psicologia Clínica e Educacional (Ipcep), ambos comandados por Daniel Gomes.
Livânia deu detalhes, também, sobre o repasse de quase R$ 900 mil a título de propina para a campanha eleitoral do ano passado. O dinheiro é aquele que foi recebido por Leandro Nunes Azevêdo, assessor de Livânia. A promessa era de repasse de R$ 700 mil, mas o dinheiro que constava na caixa de vinho era muito superior.
Os assuntos tratados sobre as propinas já haviam sido motivo de conversa de Daniel Gomes com o próprio Ricardo Coutinho. Em negociação gravada pelo delator, o ex-governador teria sido informado sobre contratos que deveriam render 10% de propina. Os repasses teriam sido feitos. Em outro caso, o próprio governador faz as cobranças.
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