WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) — Os ataques que deixaram ao menos 73 mortos no aeroporto de Cabul, entre os quais 13 militares americanos, não farão os EUA reverem os planos de retirar suas tropas do Afeganistão, disse o presidente Joe Biden nesta quinta (26).
O democrata lamentou as mortes e prometeu vingança contra os autores da ação, mas reafirmou que considera ter tomado a decisão correta sobre encerrar a operação no país, dizendo que isso evitará a perda de mais vidas americanas.
“Não vamos perdoar, não vamos esquecer. Vamos caçar vocês e fazê-los pagar”, afirmou Biden, em pronunciamento na Casa Branca. Ele disse que a operação de retirada de americanos e aliados do país seguirá com o cronograma atual — a data limite estipulada é o próximo dia 31 — e que os americanos não serão intimidados. “A missão para retirar os americanos e seus aliados do Afeganistão continua.”
Biden já vinha sendo pressionado por aliados do G7 a estender a data, mas manteve os planos após uma cúpula do grupo na terça (24). Pesou na conta a renovação das ameaças do Talibã, que retomou o poder na esteira da decisão de Biden de cumprir o acordo de paz com o grupo.
A autoria das explosões nos arredores do aeroporto de Cabul nesta quinta foi reivindicada pelo grupo Estado Islâmico Kohrasan. Houve ao menos 60 vítimas afegãs. O governo americano disse que 12 militares do país morreram e 15 ficaram feridos — de acordo com a agência Reuters, são 13 os militares americanos mortos no que seria o episódio com mais baixas nas forças dos EUA no país desde um ataque a um helicóptero, com 30 vítimas, em agosto de 2011.
Segundo estudo da Universidade Brown (EUA), cerca de 2.300 militares dos EUA morreram no país até 2019.
O EI-K, citado pelo presidente americano em seu pronunciamento, é um adversário declarado do Talibã e fez críticas ao acordo costurado entre o grupo fundamentalista e os EUA.
Biden elogiou o heroísmo dos soldados do país e disse entender a dor de suas famílias. Um dos filhos do presidente, Beau, chegou a servir no Iraque e morreu, já nos EUA, após um câncer no cérebro. “[A primeira-dama] Jill e eu tivemos uma sensação parecida de como as famílias devem estar se sentindo hoje, como se houvesse um buraco negro no peito.”
As mortes nos ataques desta quinta foram as primeiras de militares americanos no Afeganistão desde fevereiro de 2020, quando dois militares foram mortos após um homem com uniforme do Exército afegão abrir fogo. Questionado sobre sua responsabilidade no episódio, Biden afirmou que as mortes no país só haviam parado devido à trégua acertada entre o Talibã e o governo de seu antecessor, Donald Trump.
“Eles atacavam outras forças, mas não os americanos. Imagine o que teria acontecido se eu tivesse desfeito o acordo. Teria de ter enviado muito mais tropas. E eu nunca abandonei a visão de que não deveríamos sacrificar vidas americanas para estabelecer um regime democrático no Afeganistão, um país que nunca teve união interna”, disse Biden.
O democrata mudou seus planos nesta quinta, depois dos ataques em Cabul. Ele teria uma reunião com o primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, que visita os EUA, mas adiou o encontro para esta sexta (27).
Biden começou o discurso com semblante triste e olhar um quê atônito. A expressão foi se estabilizando aos poucos e ele parecia mais aliviado ao terminar a fala e começar a responder às perguntas dos repórteres.
Até chegou a fazer gracejos nas respostas, mas logo tornou a se fechar: ao ouvir uma questão, se agarrou em sua pasta e a colocou em frente ao corpo, como se fosse um escudo. Em outra, ficou olhando para baixo por longos segundos. Também fez perguntas retóricas aos jornalistas, como se buscasse a aprovação deles para as decisões que tomou.
Antes do discurso presidencial, o chefe do Comando Militar americano, o general Kenneth McKenzie, também havia prometido vingança. “Estamos trabalhando muito duro para determinar a autoria, quem está associado a esse ataque covarde e preparados para agir contra eles. Estamos 24 horas por dia, 7 dias por semana em busca deles”, afirmou.
Em discursos anteriores, o presidente disse que o país continuaria a combater o terrorismo, mas que apostaria mais em ações pontuais do que em ocupações de longo prazo, e havia dito que operações assim poderiam ser feitas no Afeganistão se fosse necessário.
O democrata é criticado pela forma como a retirada americana do país está sendo feita. Em 15 de agosto, o governo afegão que era apoiado pelos EUA foi derrubado pelo Talibã. Depois disso, o aeroporto de Cabul viu cenas de caos, com pessoas invadindo a pista do aeroporto para tentar embarcar nos aviões que partiam — incluindo jovens que caíram do trem de pouso de um cargueiro levantando voo.
A cinco dias do fim do prazo, os EUA não tem certeza de quantas pessoas ainda precisarão ser retiradas.
Biden havia dito que ninguém seria deixado para trás e que poderia estender o prazo de 31 de agosto caso fosse necessário. Após as ameaças do Talibã e alegando risco de atentados do Estado Islâmico, no entanto, o democrata manteve a data limite com o uso dos cerca de 6.000 militares ainda na capital.
Nesta semana, britânicos, alemães e franceses pressionaram para estender o prazo final, mas o Talibã se mostrou irredutível. O grupo fundamentalista islâmico afirmou que irá permitir que afegãos que se considerem sob risco e ocidentais que tenham perdido o prazo de 31 de agosto para deixar o país asiático o façam depois, por meio de voos comerciais — que não têm ocorrido desde que o grupo tomou Cabul.
Na quarta, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que os EUA dariam apoio a quem precisasse de ajuda para sair depois. Segundo ele, já foram retirados 88 mil civis do Afeganistão desde a noite de 14 de agosto, véspera da queda de Cabul, a maioria por meio de voos militares americanos.
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