A vítima era uma profissional comprometida, muito religiosa e a possibilidade de traição foi descartada.
Boa parte dos casos de violência doméstica que culminam em feminicídio parecem seguir um roteiro bastante semelhante entre si. Geralmente começam como uma suspeita de traição, na maioria das vezes infundada. Logo em seguida, começam a perseguição, as ameaças, os episódios de violência física e psicológica até que, não raro, culminam com a mulher assassinada. No caso ocorrido no último final de semana em Campina Grande, quando Juliete Alves da Silva foi morta com um facão pelo marido, não foi diferente.
Segundo a delegada que cuida do caso, Elizabeth Beckman, o marido afirmou em depoimento à polícia que suspeitava que vinha sendo traído há cerca de sete meses. Ele alegou que a mulher estava se comportando diferente, andava fria e distante e por isso passou ele passou a desconfiar. “Ele colocou na cabeça que estava sendo traído e criou detalhes com base em achismos. A vítima era uma profissional comprometida, muito religiosa. A questão da traição, entendemos mais como criação do acusado”, afirmou a delegada.
Ainda segunda a delegada, Paulo Neto Gonçalves Duarte, de 34 anos, que confessou o crime, contou que percebia que a mulher estava usando roupas íntimas novas que não eram usadas entre o casal e desconfiava que ela o traia com um colega de trabalho. Segundo amigos e familiares, a vítima era uma boa pessoa, tinha três filhos e cuidava de mais três crianças, que inclusive, são sobrinhos do acusado.
O caso se tronou ainda mais chocante, porque após o crime, o acusado limpou em uma bíblia a arma utilizada para o sinistro. O casal frequentava uma igreja evangélica.
A investigação foi concluída e o suspeito está preso.
Feminicídio
Esse é o primeiro caso considerado como feminicídio em Campina Grande. Porém, a delegada relata que tem havido muitas mortes de mulheres com o mesmo perfil da vítima. “Alguns homens ainda se acham proprietários das esposas/namoradas e não admitem ou aceitam tranquilamente a independência de trabalho, de vida social. O caso específico aqui em Campina, o casal era tido como espelho pelas pessoas da comunidade e da igreja”, contou
Não há relato de episódios de violência física entre o casal anteriormente, mas a polícia acredita que em razão da ideia de família e da religiosidade dos envolvidos, a vítima não percebeu que sofria violência psicológica por parte do marido. “Ele passou a buscá-la no trabalho para vigiar, enviar lanches durante o expediente, e perguntar de forma insistente se ela ainda o amava”, relatou.
A delegada alerta que as mulheres precisam estar mais atentas a esses sinais, e mesmo diante de coisas pequenas e que considere sem importância procurar auxílio das delegacias, centros de referência, amigas ou pessoas da comunidade que possam ver a situação de fora, nem que seja para aconselhamento.
- Mulher pula de janela de apartamento para escapar de tentativa de feminicídio, em João Pessoa, e companheiro é preso; homem ateou fogo no imóvel
- Sargento da Polícia acusado de tentativa de feminicídio contra esposa é encontrado morto em Santa Rita
ClickPB