quarta-feira, janeiro 22, 2025
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Cientistas apontam vilões na relação entre alimentação e câncer no estômago

O açúcar adicionado e o sódio são os “vilões” quando se trata da relação entre câncer no estômago e alimentação. A constatação é de uma pesquisa brasileira, divulgada nesta terça-feira (21/1), feita com 1.751 participantes em quatro capitais: São Paulo, Goiânia, Fortaleza e Belém.

O estudo considerou como padrão alimentar não saudável aquele que inclui alto consumo de carnes processadas, bebidas gaseificadas ricas em açúcares e fast-food. Por outro lado, o padrão saudável é caracterizado pela alta ingestão de vegetais, frutas e baixo nível de sódio.

Os pesquisadores observaram que a alimentação não saudável está associada a um aumento na chance de câncer gástrico, sendo que os açúcares adicionados aos alimentos contribuem de 7% a 21% nessa relação. Já o consumo de sódio é o principal fator mediador na associação do padrão saudável e o risco de adenocarcinoma gástrico (tumor maligno que se desenvolve na camada mais interna do estômago).

“Cada região e cultura do Brasil tem um comportamento. Os hábitos alimentares dos moradores de Belém não são os mesmos do que os de Goiânia ou de São Paulo, mas podem levar à mesma doença. Resolvemos fazer o caso-controle, ou seja, para cada paciente buscamos um outro indivíduo sem doença na mesma região. Introduzimos também um grupo que fez endoscopia e não tinha câncer. Isso foi demorado, mas obtivemos um importante resultado que contribui para elucidar os mecanismos envolvidos no câncer gástrico sob uma perspectiva epidemiológica, com implicações para a saúde pública”, diz à Agência Fapesp a oncologista Maria Paula Curado.

Segundo o estudo, a ingestão excessiva de sódio tem efeitos prejudiciais na mucosa gástrica, resultando em inflamação e interações com a colonização por Helicobacter pylori, bactéria comumente encontrada no estômago, mas que pode provocar gastrite e até levar ao câncer. Cabe destacar que mesmo os produtos rotulados como “integrais”, entre eles cereais matinais, pães e biscoitos, também podem conter alto teor de sódio.

“Falta informação à população sobre os alimentos. Não é fazer terrorismo, mas sim popularizar o tema, explicando mais sobre dietas, ensinando agentes de saúde, falando disso em postos de atendimento. É preciso criar uma filosofia de educar, informar e respeitar a cultura de cada região. Não adianta dizer a uma pessoa que come churrasco todos os dias que ela não poderá mais consumi-lo porque vai morrer de câncer. Não é assim. Precisa informar dos riscos. O que estamos querendo fazer é prevenção, diagnóstico precoce e ensinar alimentação saudável de forma prática e adaptada à realidade”, explica Maria Paula Curado.

Na pesquisa, os cientistas destacam que o Brasil implementou, em 2022, uma legislação de rotulagem de alimentos para melhorar a compreensão das informações nutricionais e auxiliar os consumidores a fazer escolhas conscientes.

De acordo com as novas regras, é obrigatória a veiculação do símbolo de lupa quando os produtos apresentarem, por exemplo, 600 miligramas ou mais de sódio por 100 gramas de alimento sólido ou 15 gramas ou mais de açúcar adicionado por 100 gramas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a ingestão de sódio seja inferior a 2 gramas por dia, o equivalente a 5 colheres pequenas de sal. Os brasileiros consomem quase o dobro da recomendação diária.

Em relação ao açúcar adicionado, o consumo máximo deve ser equivalente a 10% das calorias diárias. Isso significa que, em uma dieta de 2 mil calorias, por exemplo, esse percentual representa 50 gramas de açúcar por dia ou até dez colheres de chá.

O estudo foi publicado na revista científica BMC Medicine e pode ser acessado na íntegra neste link.

* Com informações da Agência Fapesp

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