quarta-feira, dezembro 25, 2024
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Pela primeira vez, brasileiro recebe o “Nobel da Matemática”

O brasileiro Artur Avila, pesquisador do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), do Rio de Janeiro, vai receber a Medalha Fields, considerada o “Nobel de Matemática”. O anúncio foi feito na abertura do 27º Congresso Internacional de Matemáticos, em Seul, na tarde desta terça-feira (manhã da quarta, no horário sul-coreano). O prêmio é concedido a cada quatro anos pela União Internacional de Matemática a estudiosos com menos de 40 anos de idade que tenham alcançado resultados inéditos e revolucionários na área. Outros três especialistas serão premiados (confira a lista completa). É a primeira vez que um matemático latino-americano recebe a honraria.

“O anúncio me surpreendeu. Eu não esperava ter chances em 2014 (…) Minha reação inicial foi mais de alívio que de outra coisa, já que o prêmio agora significa que não vou ter de passar por mais quatro anos de pressão. Quando comecei como matemático, nem pensava nesse tipo de prêmio. Mas, desde 2008, começou a se falar nessa possibilidade e ficou impossivel ignorar”, disse Avila, em comunicado divulgado pelo Impa. “O que eu mais queria (e continuo querendo) é fazer matemática da mesma maneira que no início. Por exemplo, escolhendo tópicos em que trabalhar por considerá-los atraentes, em vez de pensar em termos do reconhecimento que eles possam trazer.”

Avila, de 35 anos, é considerado um prodígio desde a adolescência. Antes mesmo de se formar na faculdade de matemática, em 2001, foi convidado a atuar como pesquisador do Impa, instituto supervisionado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, onde hoje ocupa a Cátedra Armínio Fraga. Dois anos depois, Avila recebeu convite para dirigir o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), em Paris — ele se naturalizou francês e realiza parte das pesquisas na França.

Nos últimos dez anos, o prestígio de Avila no meio acadêmico vem crescendo apoiado em estudos que buscam entender os chamados sistemas dinâmicos, cujo estado evolui com o passar do tempo por influência de diversos fatores. A teoria desse ramo da matemática é utilizada para construir previsões em áreas tão distintas quanto a física, a biologia e a economia.

Avila também ficou conhecido entre os estudiosos por conseguir provar, em 2005, a “Conjectura dos dez martínis”, problema proposto em 1980 pelo americano Barry Simon — que prometeu pagar dez copos da bebida a quem explicasse sua teoria sobre o comportamento dos “operadores de Schrödinger”, ferramentas matemáticas ligadas à física quântica. Junto com a pesquisadora Svetlana Jitomirskaya, Avila solucionou o problema e, de fato, foi premiado com algumas rodadas de martíni.

Desde 2010, há uma expectativa de que o brasileiro seja premiado com a Medalha Fields. Naquele ano, ele se apresentou na 27ª edição do Congresso Internacional de Matemáticos, realizado na Índia — uma honraria destinada a poucos. Desde a primeira edição do congresso, apenas nove brasileiros haviam sido convidados para palestrar no evento. Na edição deste ano, além de Avila, mais quatro brasileiros participam do congresso, entre eles o matemático Fernando Codá, que também era cotado para receber a medalha.

“Os grandes prêmios científicos são, essencialmente, símbolos que permitem levar a ciencia para o imaginário popular”, disse Avalia no comunicado do Impa. “No caso do Brasil, imagino que essa conquista tenha uma importância particular, já que demonstra, de maneira clara, que temos condições de fazer ciência do mais alto nível.”

A Medalha Fields é concedida aos talentos da matemática desde 1936. Daquele ano até 2010, 52 matemáticos haviam recebido o prêmio, com destaque para americanos, com doze medalhas, e França, com dez.

Repercussão — “O prêmio recebido por Avila mostra que há, no Brasil, boas condições para jovens que queiram buscar o reconhecimento internacional por meio da atividade acadêmica. Há excelentes centros de pesquisa com grande reconhecimento internacional, como o próprio Impa, que favorecem o desenvolvimento intelectual de estudantes ainda no ensino básico. O cenário está favorável à pesquisa científica. Contudo, precisamos aumentar a eficiência dos órgãos responsáveis pelo financiamento desses trabalhos, que atualmente sofrem com a burocracia exacerbada”, diz Carlos Henrique de Brito Cruz, professor do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp).

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