Passar o dia de hoje sem o filho não é algo incomum para uma mãe de jogador. A rotina de jogos e viagens faz com que a presença deles nesta data seja rara. Para as dez mulheres que perderam seus filhos no incêndio do CT do Ninho do Urubu, no entanto, este não é um domingo qualquer.
Nestes três meses que se sucederam à tragédia de 8 de fevereiro, para muitas a solução foi imaginar — ao menos nos momentos em que a dor parecia mais difícil de suportar — que eles estavam numa longa viagem com o Flamengo. Hoje, contudo, o vazio na mesa durante o almoço impõe a realidade diante delas.
Há dez dias, o EXTRA começou a procurá-las com uma pergunta: o que vocês diriam a seus filhos se pudessem escrever uma carta para eles? A ideia era que pudessem passar seus sentimentos para o papel. Todas aceitaram a sugestão.
Andreia de Oliveira, mãe do goleiro Christian Esmério, uma das dez vítimas fatais, não costuma tocar no assunto dentro de casa, em Madureira, onde vive com mais dois filhos. A postura faz com que amigos, familiares e vizinhos lhe digam que é preciso ter força.
— Eles não sabem que, se eu me levanto todos os dias e sorrio para meus outros filhos, é porque tenho força — desabafa.
Ao se despedir da reportagem, que visitou sua casa na última sexta-feira, agradeceu pela oportunidade de poder falar sobre o filho. A reação foi parecida com a de Marília Barros, mãe de Arthur Vinícius. Muito abatida nos meses seguintes à morte de seu único filho, ela foi a última a enviar sua carta. Mas encarar a tristeza e expressar os sentimentos mostraram a ela um caminho.
— É engraçado que não sou muito de escrever, não. Sou mais de falar. Mas a emoção vai trazendo as lembranças e vai se tornando fácil escrever, apesar da dor — conta a moradora de Volta Redonda. — Você sabe que vou passar a escrever assim os meus sentimentos? Me deu essa ideia. Acredito que ele (Arthur) esteja vendo e sentindo a minha emoção.
As cartas trazem muita dor e saudade. Mas também estão repletas de amor. Há pouca indignação, embora o sentimento também esteja presente. As famílias estão atrás de seus direitos. Até o momento, o Flamengo entrou em acordo com duas delas (de Athila Paixão e de Gedinho) e com o pai de Rykelmo (não com a mãe). Em três casos, as negociações estão em curso. Em outros cinco (incluindo a mãe de Rykelmo), sequer começaram.
— Ainda estamos esperando eles nos procurarem — conta Andreia.
Ao entregar as cartas, todas agradeceram. Não apenas por terem tido a chance de homenagear seus filhos. Mas, principalmente, por terem sido lembradas. Que seus relatos multipliquem o afeto e o apoio destinado a elas neste Dia das Mães.
CONFIRA CADA UMA DAS CARTAS DAS MÃES DO NINHO:
Carta de Lêda Pisetta, mãe de Bernardo Pisetta
Carta de Rosana de Souza, mãe de Rykelmo ‘Bolívia’
Carta de Cristina Rosa, mãe de Samuel Thomas
Carta de Marília Barros, mãe de Arthur Vinícius
Carta de Diana Paixão, mãe da Athila Paixão
Carta de Sarah Cristina, mãe de Pablo Henrique
Carta de Andreia de Oliveira, mãe de Christian Esmério
Carta de Dona Josete, vó de Vitor Isaías
Carta de Teresa Cristina, mãe de Gedson Santos
Carta de Alba Valéria, mãe de Jorge Eduardo