domingo, outubro 19, 2025
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Estudo aponta que redes sociais estão afetando o cérebro das crianças

Um novo estudo da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF) indica que o uso intenso de redes sociais pode estar prejudicando o desenvolvimento cognitivo de crianças e pré-adolescentes, especialmente ao se tratar de leitura, memória e vocabulário.

Pesquisadores analisaram dados de mais de 6 mil crianças, entre 9 e 11 anos, participantes do Estudo de Desenvolvimento Cognitivo do Cérebro do Adolescente (ABCD), que monitora o uso de redes sociais, entre outros fatores.

Segundo a pesquisa, crianças que passam mais tempo em aplicativos como TikTok, Instagram e outras plataformas registraram desempenho inferior em testes de leitura e memória em comparação às que quase não usam redes. Quanto maior o tempo de uso, pior o resultado.

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As crianças participantes do estudo foram divididas em três grupos, de acordo com a forma como seus hábitos nas redes evoluíram ao longo do tempo. Um grupo usava pouco ou nenhum tipo de rede social, o segundo tinha um uso reduzido, e o terceiro passava três horas ou mais por dia nas plataformas nessa mesma idade.

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Crianças que passam mais tempo nas redes sociais registraram desempenho inferior em testes de leitura e memória

Cada grupo realizou uma série de testes cognitivos no início do estudo e novamente no início da adolescência. O resultado mostrou que os usuários de redes por cerca de uma hora diária tiveram pontuações um ou dois pontos menores em leitura e memória. Entre os que passavam três horas ou mais rolando o feed, a diferença chegou a cinco pontos.

“É interessante notar que tanto os grupos de baixo quanto de alto uso apresentaram desempenho acadêmico inferior”, afirmou o neurologista Sanjeev Kothare, diretor de Neurologia Pediátrica do Cohen Children’s Medical Center, em entrevista ao New York Post.

Embora não tenha participado do estudo, o especialista acredita que a causa está relacionada à falta de foco e ao sono insuficiente.

As crianças podem estar usando as redes durante as aulas ou ficando acordadas até tarde, o que as deixa sonolentas e menos produtivas no dia seguinte.

Sanjeev Kothare

Kothare também destacou que o problema não se resume ao tempo de tela. O impacto negativo é específico das redes sociais, que exigem uma interação ativa do usuário.

“Assistir à TV, por exemplo, é uma atividade mais passiva. A criança pode dividir a atenção com outras tarefas. Já nas redes, o cérebro é constantemente estimulado, o que consome mais energia cognitiva”, observou.

Segundo ele, o excesso de estímulos pode deixar o cérebro sobrecarregado, comprometendo a concentração e o aprendizado. O neurologista afirmou, ainda, que de modo geral o envolvimento intenso com redes sociais é prejudicial. Recomendou que os adolescentes dediquem mais tempo a atividades construtivas, dentro e fora da escola.

O alerta corrobora recomendações recentes do Cirurgião-Geral dos Estados Unidos, que em 2023 emitiu um comunicado oficial sobre os riscos das redes sociais para a saúde mental de crianças e adolescentes. O relatório aponta que o uso frequente das plataformas pode afetar áreas do cérebro ligadas às emoções e ao controle de impulsos, aumentando a vulnerabilidade à ansiedade, depressão e baixa autoestima.

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O impacto negativo é específico das redes sociais, que exigem uma interação ativa do usuário

Diante disso, escolas americanas têm adotado medidas para limitar o uso de celulares em sala de aula. Em Nova York, por exemplo, entrou em vigor neste ano uma proibição total de smartphones durante o horário escolar. A medida leva o nome bell-to-bell, que significa “do primeiro ao último sinal”.

Apesar de controversa, a política tem mostrado resultados positivos. Um professor declarou ao The Post que a medida é “a melhor coisa que já aconteceu para as escolas e para os alunos”.

Com isso, especialistas defendem que os pais também adotem estratégias em casa, pedindo que os pais também façam sua parte, estabelecendo limites para o uso de redes sociais fora do horário escolar.

“O método da recompensa funciona bem”, aconselhou. “Ofereça incentivos para que as crianças passem menos tempo nas redes, como permitir um filme, mais tempo de lazer ou preparar a refeição preferida no fim de semana. (…) Acredito que o reforço positivo por bons comportamentos é a melhor maneira de convencer as crianças a se afastarem das redes sociais”, concluiu Kothare.

Brasil também avança no debate sobre uso de celulares nas escolas

Assim como ocorre em outros países, o Brasil também tem dado passos importantes para equilibrar o uso da tecnologia em sala de aula. A Lei nº 15.100/2025, que regulamenta o uso de celulares nas escolas, representa um marco na construção de um ambiente escolar mais saudável, equilibrado e voltado ao aprendizado.

A nova legislação não busca proibir o uso dos aparelhos, mas orientar um uso consciente e pedagógico, preservando a concentração e o bem-estar dos alunos. O objetivo é reduzir o uso excessivo e descontextualizado dos dispositivos ao mesmo tempo em que incentiva a integração das tecnologias digitais como ferramentas de aprendizado.

A medida faz parte da Estratégia Nacional das Escolas Conectadas (ENEC), iniciativa do Ministério da Educação (MEC) voltada a promover uma educação com tecnologia que fortaleça a cidadania digital. A meta é formar estudantes críticos, conscientes e capazes de usar a tecnologia para aprender, criar e inovar.

De acordo com o MEC, a regulamentação é parte de uma política mais ampla para promover um ambiente educacional seguro, produtivo e emocionalmente saudável. A combinação entre políticas públicas, educação digital e limites claros dentro e fora da sala de aula tende a ser o caminho mais eficaz para garantir o equilíbrio entre tecnologia, aprendizado e saúde mental.

Metrópoles

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