O pneumotórax é um quadro surpreendente que acomete, geralmente, pacientes jovens, altos e magros – sem qualquer problema de saúde de fundo. No caso do advogado David Lins Sales Gama, a emergência de saúde ocorreu pela primeira vez quando ele tinha 19 anos e se preparava para ir à praia.
“Foi uma sensação horrível. Era como se algo tivesse se soltado dentro do meu tórax”, lembra o rapaz. Depois desse, ocorreram mais sete episódios de pneumotórax.
David, que hoje tem 31 anos, lembra que tomava banho, quando começou a sentir dores no peito, que pioravam quando ele se abaixava. O rapaz, que mora no Rio Grande do Norte, explicou os sintomas para a mãe e os dois decidiram deixar a visita ao médico para depois da praia.
Não foi uma boa ideia: a dor no peito se intensificou e, pouco depois, David já enfrentava dificuldades para respirar. Durante um episódio de pneumotórax, o ar escapa do pulmão para a caixa toráxica e a pressão dele sobre a pleura faz com que o pulmão encolha. Há risco de vida caso a situação não seja revertida.
Quando David foi examinado pela equipe médica, o pulmão esquerdo dele estava com 40% da capacidade comprometida. “Meu pulmão não inflava por completo, o que é perigoso. Além de não respirar normalmente, meu coração podia ser afetado. Os médicos precisaram drenar o ar que estava no meu tórax para fora, o que demorou praticamente uma semana”, lembra o rapaz.
Pulmão em colapso
Segundo David, o primeiro pneumotórax foi o mais grave. Dali em diante, os colapsos ocorreram a cada dois ou três meses até ele completar 20 anos.
Nas outras ocasiões, ele já era capaz de identificar o problema no pulmão antes de se tornar um risco. “Inclusive, uma vez ajudei o médico a ver mo raio-x. Ele disse que não conseguia identificar onde estava a parte do pulmão de menor capacidade e, então, apontei”, conta David.
“Foram quatro vezes no pulmão direito e quatro no esquerdo com espaço de tempo muito curto. Era desmotivante, pois queria dar continuidade às minhas atividades, mas sempre precisava passar 10 dias no hospital. Os episódios atrapalharam minha preparação para o vestibular porque precisava faltar às aulas sempre”, recorda.
Após o oitavo pneumotórax, ele decidiu buscar um especialista no assunto, que sugeriu uma intervenção cirúrgica chamado pleurodese. Nesse procedimento, o médico cola a pleura no pulmão, fazendo com que não haja mais escapes de ar para o tórax.
Causas não foram esclarecidas
O pneumologista Claudio Nunes, chefe do serviço de Pneumologia do Hospital São Vicente de Paulo, explica que a cirurgia é indicada somente em casos repetitivos de pneumotórax . “Isso evita que bolhas na pleura provoquem esse escape de ar”, detalha.
Segundo David, até hoje as razões que o levaram a ter episódios recorrentes de pneumotórax não foram completamente esclarecidas. “Nunca soubemos o motivo por trás de tantos episódios. Disseram que poderia ser algo relacionado ao meu biotipo, ou o fato de ter nascido prematuro ou porque caia muito fazendo parkour na infância”, conta.
Doenças pulmonares
O cirurgião torácico Eduardo Fontena, da Rede D’Or, explica que o pneumotórax sem causas externas normalmente é causado por bolhas, que podem ocorrer tanto na formação do órgão como em decorrência de inflamações. Quando elas se rompem, o ar escapa.
“O uso de tabaco é um fator de risco, mas são muitas possibilidades. É importante que os pacientes que passam por episódios em sequência descartem doenças pulmonares ou a permanência de alguma bolha na superfície da pleura”, orienta Fontena.
Metrópoles