Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e divulgada nesta quinta-feira (25) aponta que a fome esteve presente em 3,2 milhões de residências brasileiras no ano passado. O dado integra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua: Segurança Alimentar 2023.
Esse número de domicílios passou por privação de alimentos, algumas vezes, durante o período analisado no estudo, entre os meses de outubro a dezembro.
Nesses casos, a escassez afetou não só os adultos, mas as crianças e adolescentes residentes nos lares atingidos pela fome. Essa situação é definida como insegurança alimentar grave.
Em 2023, 72,4% dos mais de 78 milhões de domicílios brasileiros mapeados pelo IBGE encontravam-se em situação de segurança alimentar e 27,6% possuíam algum grau de insegurança. Já a insegurança alimentar grave foi notada em 4,1% do total de lares. Porcentagem inferior a observada cinco anos antes, mas ainda maior que a obtida no estudo de 2013.
2023
- 72,4% dos domicílios possuíam segurança alimentar
- 27,6% dos domicílios possuíam algum grau de insegurança alimentar
- 4,1% dos domicílios possuíam insegurança alimentar grave
2018
- 63,3% dos domicílios possuíam segurança alimentar
- 36,7% dos domicílios possuíam algum grau de insegurança alimentar
- 4,6% dos domicílios possuíam insegurança alimentar grave
2013
- 77,4% dos domicílios possuíam segurança alimentar
- 22,6% dos domicílios possuíam algum grau de insegurança alimentar
- 3,2% dos domicílios possuíam insegurança alimentar grave
Esta é a quinta vez que a pesquisa sobre insegurança alimentar é realizada com a mesma metodologia pelo IBGE, mas pela primeira vez foi incluída na PNAD.
“O tema já foi investigado pelo Instituto anteriormente, nas edições de 2004, 2009 e 2013 da antiga PNAD e na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2017-2018, sempre utilizando a escala EBIA. Assim, embora não sejam diretamente comparáveis, por se tratarem de pesquisas diferentes, o IBGE vem mantendo um padrão quinquenal para essa investigação, permitindo traçar a trajetória de enfrentamento da fome no país”, explicou o instituto em comunicado.
Norte e Nordeste são as regiões mais afetadas
No último trimestre de 2023, aproximadamente um quarto dos domicílios das regiões Norte e Nordeste do Brasil estavam em situação de insegurança alimentar leve. Nestes casos, os moradores vivem sob a preocupação ou incerteza quanto ao acesso a alimentos e acabam adotando estratégias que acabam comprometendo a qualidade da dieta e a chamada sustentabilidade alimentar da família.
As proporções de insegurança alimentar grave observadas nessas áreas ficaram acima do registrado no restante do país no mesmo período.
Proporção de domicílios com insegurança alimentar grave em 2023 por região:
Norte: 7,7% dos domicílios possuíam insegurança alimentar grave
Nordeste: 6,2% dos domicílios possuíam insegurança alimentar grave
Centro-Oeste: 3,6% dos domicílios possuíam insegurança alimentar grave
Sudeste: 2,9% dos domicílios possuíam insegurança alimentar grave
Sul: 2% dos domicílios possuíam insegurança alimentar grave
Características dos domicílios com insegurança alimentar grave em 2023:
O levantamento do IBGE mostra que características da pessoa responsável pelo domicílio podem contribuir para os dados de segurança alimentar. No período analisado, 51,7% dos lares era chefiado por mulheres e 48,3% por homens.
Em contrapartida, situações de insegurança alimentar, independentemente do grau, foram observadas em 59,4% dos domicílios liderados por mulheres, valor 18,8 pontos percentuais maior em comparação com residências comandadas por homens, com proporção de 40,6%.
O recorte por cor ou raça também traz variações. No Brasil, em 2023, 42% dos responsáveis pelos domicílios eram brancos, 12% pretos e 44,7% pardos.
Entretanto, dos lares em situação de insegurança alimentar, 29% eram liderados por pessoas pretas, 15,2% brancas e 54,4% pardas.
Nos casos de insegurança alimentar grave a proporção de residências com responsável de cor ou raça parda atinge 58,1%, mais que o dobro do que era observado nas casas lideradas por pessoas brancas, de 23,4%.