quinta-feira, maio 2, 2024
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Coluna de Rocha: ÊH, OH, OH, VIDA DE GADO !

No final dos anos 70, ainda durante a ditadura, o ensino nas escolas públicas era excepcional. Estudantes que hoje cursam a 8ª série ou acima, seriam reprovados no segundo ano, já que a cobrança de resultados no aprendizado os obrigavam a estudar para aprender; não havia moleza, inclusive na questão disciplinar, porque ainda eram permitidos os castigos e, qualquer mal feito era motivo para suspensão ou expulsão e qualquer deslize do aluno na escola, significava pra ele também, uma bela pisa em casa.
Mas os professores eram bons, bem preparados e quem entrava numa escola com o intuito de aprender, aprendia a contento, não tinha o que temer. Mesmo assim, eu via com tristeza, alguns colegas que hoje dariam cambão em muitos que se aproximam ou têm o segundo grau, sendo reprovados ou desistindo.
Além de ditado, redação, texto livre, aprendíamos interpretação de texto, comentando de forma espontânea nossas impressões à cerca de determinadas leituras. Havendo dificuldade, os professores orientavam sobre a forma e a necessidade da compreensão, já que, de nada adiantaria para o aluno saber ler e escrever, se não fosse capaz de entender o que lia (Os chamados analfabetos funcionais).
Hoje é comum encontrarmos pessoas, sobretudo, as mais jovens, com aversão à leitura, porque não conseguem raciocinar ao mesmo tempo em que leem; falta-lhes o mínimo de imaginação diante de textos básicos, o vocabulário delas é extremamente limitado e, perguntar qual era a cor do cavalo branco de Napoleão, seria pra elas, uma tortura.
Eu entendo que a ditadura cometeu o grave erro de ensinar, acreditando que poderia, pela força, manter a dominação, indefinidamente. Mas, não há força que se sobreponha ao conhecimento. Se as pessoas instruídas tivessem considerado a ditadura um sistema positivo de governo, conviveriam com ela sem revolucionar. Porém, com um ensino de qualidade a sua disposição, o povo começou a enxergar mais do que devia e reagiu… Daí, veio a necessidade de os ditadores inverterem a forma de domínio, instituindo essa democracia fajuta, empobrecendo e emburrecendo o povo, para assim, se manterem no comando, dando ao cidadão desinformado, a falsa impressão de liberdade sob o poder que emana do povo, pelo povo e para o povo. baboseira pura, isto!
Num país onde uma quinta parte da população tem noção de democracia e de cidadania, não acontece um décimo do que vemos todos os dias, no Brasil, em todas as áreas e níveis de poder. Quando hoje vemos alguma manifestação, olhando de perto, percebemos que são pessoas individualmente ou grupos defendendo interesses pessoais e usando o povo como massa de manobra. Não há reação popular, propriamente dita, fruto de consciência sociopolítica.
Deixo abaixo o atalho para a música de Zé Ramalho, feita para contestar a ditadura e que nunca perdeu a validade. Talvez sua mensagem faça muito mais sentido nos dias atuais, do que do que fez durante a repressão.
Como dizia Nelson Rodrigues“O povo é como uma boiada:

Se soubesse a força que tem unido, ninguém segurava!”
A LETRA:
Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber…E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer…Êeeeeh! Oh! Oh!
Vida de gado
Povo marcado
Êh!
Povo feliz!…Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal…E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou…Êeeeeh! Oh! Oh!
Vida de gado
Povo marcado
Êh!
Povo feliz!…Oooooooooh! Oh! Oh!
O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam essa vida numa cela…Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A Arca de Noé, o dirigível
Não voam nem se pode flutuar
Não voam nem se pode flutuar
Não voam nem se pode flutuar…

Êeeeeh! Oh! Oh!
Vida de gado
Povo marcado
Êh!
Povo feliz!…




Elvis Rocha
LEIA A  COLUNA DE ROCHA, TODA SEXTA, NO

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