terça-feira, novembro 26, 2024
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Coluna de Rocha: Ler ou não ler? Eis a questão…

Quem testemunha hoje a minha paixão pela comunicação escrita, esse meu prazer explícito em ler e escrever, não imagina como foram difíceis pra mim, os primeiros passos nesse sentido.Aos 7 anos, morando em um sítio, fui matriculado no primeiro ano e, depois de 6 meses, quando morreu a única professora (Dona Genília, que Deus a tenha!), que ensinava do primeiro ao quarto ano (tudo junto), eu não havia aprendido a desenhar uma única letra, sequer.

No ano seguinte fui para a casa de parentes na cidade, matriculado no SESI, permaneci 4 meses, até a morte do meu avô materno e, mais uma vez saí sabendo desenhar o nome da escola e, nada mais.

De volta ao sítio, ainda sem uma professora na escolinha, eu olhava com desgosto para o meu material escolar  e me considerava um incapaz, que queria muito saber, mas, que não conseguiria aprender nada, nunca.

Meu pai, embora soubesse um pouco, achava que era da escola e dos professores a função de  alfabetizar e ensinar, mas, minha mãe, que só sabia (e sabe) o pouco que aprendera no Mobral, arriscou-se a me ensinar e, diferentemente da didática clássica, ela me dava sílabas inteiras para juntar e formar palavras, fugindo de consoantes e vogais separadas: Ba-la, sa-pa-to, ma-ca-ca, quei-jo, pi-po-ca, etc… O resto, eu aprendi errando (muito). Quando eu já sabia formar as palavras, ela ensinou-me os números e as quatro operações básicas, sem que eu aprendesse a contento, contas de dividir (Até hoje eu apanho disso).

Ainda meio atrapalhado e inseguro, como a criança que começa a andar, eu buscava entre as coisas do patrão, no escritório dele, tudo que pudesse ler: Revistas, jornais, livros, gibis, palavras cruzadas, tudo, tudo que me trouxesse informação e assim, eu me senti, de verdade, descobrindo um novo mundo, um novo e mágico universo. Quando não entendia o sentido de uma palavra, perguntava para alguém ou apelava para o dicionário do patrão (Juiz de direito). E o próprio patrão, percebendo que eu gostava de aprender, me ensinava e corrigia, quando eu escrevia ou falava errado, além de me contar muitas histórias do Brasil, da humanidade e, dele próprio, como exemplo.

Como a letra da minha mãe é bonita e ela começou a me ensinar desenhando pontilhados pra eu sobrescrever, a minha letra também nasceu relativamente boa, a ponto de, no ano seguinte, a professora de outra escola, na cidade, duvidar de que eu não tivesse concluído o primeiro ano e insistido para que eu fosse mandado direto para o segundo, o que eu prontamente, recusei. Foi um ano fácil, de notas excelentes e muita satisfação por constatar que eu não era aquele incapaz que me julgava antes. Faltava apenas aquele primeiro empurrão da minha mãe, para que eu pegasse no tranco e seguisse em frente, sozinho.

O segundo ano eu estudei em outro sítio dos mesmos patrões dos meus pais, para onde eles haviam se mudado. A escola ficava a quatro quilômetros da minha casa, mas, era um percurso que eu fazia todos os dias, a pé, com prazer, sem jamais reclamar. Eu me desesperava sim, quando, por algum motivo, não podia ir.

Nesse novo sítio pra onde nos mudamos, morava Luiz, um rapaz de 16 anos, que nunca havia pisado em uma sala de aula e ele, vendo o meu entusiasmo com os estudos, interessou-se em aprender comigo. Do mesmo modo como minha mãe havia me ensinado, ensinei pra ele e, em pouco tempo ele já fazia algumas leituras curtas na igreja, muito orgulhoso. Se hoje ele disser pra alguém que jamais entrou em uma escola, pela maneira como é inteligente e conhecedor de muitos assuntos, poucos acreditarão nele.

Eu, depois de adulto, percebi que um sobrinho estava tendo dificuldades parecidas com as minhas, para aprender na escola. Encerrou o terceiro ano seguido de estudos sem sair do primeiro ano e, brincando, como fez minha mãe comigo, resolvi arriscar com ele e, para minha surpresa, em apenas uma semana, com muita paciência, ele já sabia desenhar, juntar as letras e formar palavras com as vogais, tipo eu, ei, oi, ui, ia, etc… e, daí pra ele sair do primeiro para os outros anos letivos sendo sempre bem aprovado, foi um pulo.

Por fim, eu acho que, independentemente de hoje as crianças já praticamente nascerem em creches e escolinhas, de terem todas as facilidades e incentivos para estudarem e aprenderem, o incentivo inicial em casa é imprescindível para uma decolagem mais fácil, na escola. O pai, a mãe ou outra pessoa que vá ensinar, precisa ter muita paciência, jamais se irritar e nunca chamar a criança de burra, lesada, incapaz… Mesmo quando o aproveitamento não parecer satisfatório, elogiar, incentivar e mostrar que e como dá para melhorar e recomendar aos instrutores de reforço, que ensinem e não façam pelo seu filho, as tarefas que ele não entender na escola; acompanhar o desempenho dele e exigir da escola, qualidade no ensino, não permitindo jamais que ele seja aprovado, sem méritos para isto, porque um boletim forjado poderá lhe abrir muitas portas no futuro, mas não garantirá que ele fique em um emprego ou que cresça como pessoa ou profissional.

Que o diploma seja a campainha que abrirá muitas portas pra ele e o aprendizado, a rodovia sem fim por onde ele seguirá com segurança e sabedoria…

 

 

 

 

 

LEIA A  COLUNA DE ROCHA, TODA SEXTA, NO

 

 

 


 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Elvis Rocha
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