Jurandy do Sax se apresenta na Praia do Jacaré, na Paraíba.
Espetáculo acontece mesmo com chuva e ele garante que não fica doente.
A tradição de assistir ao pôr do sol ouvindo o Bolero de Ravel na Paraíba começou com uma grande coincidência. Um grupo de amigos se reuniu para assistir ao fenômeno na Praia do Jacaré, às margens do Rio Paraíba, ao som da trilha sonora do filme francês Retratos da Vida. No momento em que o sol estava se pondo, o Bolero de Ravel tocou e o grupo considerou que a composição era perfeita para aquela ocasião.
Quem contou a história foi Jurandy do Sax, músico conhecido por executar o Bolero de Ravel há 11 anos na Praia do Jacaré. Segundo ele, o grupo de amigos repetiu a combinação do pôr do sol com o bolero várias vezes, mas a apresentação ao vivo só começou em 2000 pelo próprio Jurandy.
“Vi o pôr-do-sol e senti vontade de tocar. Passei a tocar sozinho na beira do rio com frequência, mas só me apresentei para o público quando abri um bar no ano 2000. Mas, mesmo assim, era só quando dava vontade”, explicou.
No fim do mesmo ano, o que era feito sem obrigação virou um compromisso firmado com o público. O músico relatou que, em um dia sem movimento em seu bar, ele decidiu tocar sozinho no fim do píer sobre o rio. “Fiquei vendo o crepúsculo. Foi uma cena muito linda, com o céu mudando de cor e aí eu me vi dentro da água. Veio uma mensagem: vou tocar dentro do rio. E em seguida veio uma segunda mensagem: vai ser em um barquinho”, contou.
“Foi um momento de grande euforia, eu gritava de alegria”, revelou Jurandy. A ideia rendeu frutos e em 1º de janeiro de 2001, Jurandy do Sax fez sua primeira apresentação em um barquinho no Rio Paraíba, tocando o Bolero de Ravel ao vivo no seu saxofone. Com o passar dos anos, a tradição foi sendo aprimorada. Hoje, o músico usa um microfone sem fio e a composição é transmitida em todos os bares da Praia do Jacaré simultaneamente através de uma central de som.
Jurandy conta que já executou o Bolero de Ravel mais de 4 mil vezes e garantiu que não tira férias. “Esteja onde eu tiver eu toco, faz parte do meu ser”, disse. O músico tem um substituto para tocar em seu lugar caso ele precise ficar ausente, mas ele afirma que esses momentos são apenas quando ele sai em viagens de trabalho. “Não adoeço”, brincou Jurandy.
Dependendo da estação do ano, o horário que o sol se põe varia. Porém, como em João Pessoa acontece um dos primeiros crepúsculos do país, Jurandy recomenda que o turista chegue às 16h30 para garantir ver o pôr do sol. No verão, no entanto, é mais comum que o fenômeno aconteça por volta das 17h10.
Se o turista achar que é melhor não visitar a Praia do Jacaré quando estiver chovendo, Jurandy garante que o espetáculo acontece do mesmo jeito. Segundo ele, pode haver um temporal, mas mesmo assim, ele estará lá. “Certa vez estava chovendo e eu achei que não ia tocar porque não ia aparecer ninguém para assistir. Mas quando cheguei, vi que vinham quatro ônibus vindos do Sul do país e fiz a apresentação. Depois, uma senhora me disse que foi o pôr do sol mais lindo da vida dela. E olhe que ela nem viu o sol”.
O local é mais visitado durante os períodos de férias escolares, em janeiro e em julho. Porém, a movimentação não para durante o resto do ano. “Chegamos a um estágio de turismo permanente. Em baixa temporada, não é tão difícil ter grande movimentação de pessoas”, explicou. Segundo Jurandy, em um dia de fim de semana do mês de janeiro circulam cerca de 10 mil pessoas na Praia do Jacaré.
Diversidade de atrativos
“Aqui tem uma diversidade grande de artesanato local e uma praça de alimentação boa onde o turista pode experimentar uma típica tapioca de côco”, indicou Jurandy. O próprio músico tem uma lojinha onde são vendidos CDs e DVDs do espetáculo, camisas, artesanatos e presentes, tudo para lembrar a passagem do turista pelo local. Na Praia do Jacaré, além dos bares, restaurantes e da praça de alimentação, existem lojinhas com produtos da terra e uma Feira de Artesanato.
Um prato que é muito explorado na Paraíba é a tapioca já mencionada por Jurandy. Além da forma tradicional como é servida, com côco e queijo, na Praia do Jacaré pode-se encontrar tapiocas com vários ingredientes inusitados, como a “Francesinha”, que tem banana flambada com whisky, e outras que têm carne de sol e tomate seco e até com rapadura. Os preços variam de R$ 2 a R$ 8.
Os bares e restaurantes também têm seus atrativos. De lá, os visitantes escutam melhor o Bolero de Ravel e têm uma visão privilegiada da apresentação de Jurandy. Depois do pôr do sol começam outras atrações: artistas fazem, desde shows de forró pé-de-serra até MPB. As apresentações no Jacaré chegam até as 20h e o horário pode esticar ainda mais nos fins de semana, dependendo da animação dos clientes.
“Cada um tem uma peculiaridade”, admitiu Jurandy. Com grande variedade de cardápios, ele recomenda que nenhum turista vá embora da Paraíba sem provar uma peixada ou um bom caranguejo no molho de côco na Praia do Jacaré.
Fonte: G1