Direção admite que sabia de uso de drogas no campus. Delegado da PF diz que reitoria quer transformar instituição em ‘república de maconheiros’
Os alunos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que participam da ocupação da reitoria arriaram, nesta quinta-feira, a bandeira nacional que ficava no mastro principal da instituição e a substituíram por um pano vermelho com a inscrição “Reitoria Ocupada”. Contrário ao ato, um grupo de estudantes levou a bandeira brasileira para o Centro Tecnológico da instituição e a hasteou a meio-mastro em sinal de protesto. Pelo Facebook, o grupo afirmou também que fará uma passeata para “mostrar que nem todos os estudantes da UFSC concordam com essa ocupação da reitoria”.
A ocupação teve início na noite da terça-feira. Um grupo de 200 alunos tomou o local após operação da Polícia Federal (PF) no campus para investigar uma denúncia de tráfico de drogas que acabou com a prisão de cinco pessoas (sendo quatro estudantes), choque entre policiais e supostos alunos e a depredação de viaturas da PF e da Polícia Militar.
Na tarde desta quinta-feira, os invasores realizam reuniões para definir os rumos da ocupação. Eles dizem que só sairão do local se a reitoria proibir a entrada da polícia no campus. Eles querem ainda que a reitora Roselane Neckel revogue um protocolo de compromisso assinado em dezembro de 2013 com o Ministério Público Estadual (MPE) que estipula horários para a realização de confraternizações no campus e permite que a Polícia Militar seja chamada para conter casos de desordem e criminalidade. De acordo com o MPE, o documento foi assinado porque moradores do entorno da universidade reclamavam do barulho das festas realizadas à noite. O protocolo passaria a vigorar neste mês.
Desde a operação da PF na terça-feira, a reitoria do campus se mostrou simpática às reivindicações dos alunos. Após o choque entre polícia e estudantes, a direção publicou uma nota de repúdio à ação da PF. Em assembleia na quarta-feira, Neckel disse que buscará “com as autoridades responsáveis a punição dos envolvidos no ato” e que a ação policial ocorreu sem sua autorização.
Em resposta, a Polícia Federal afirmou que a operação não feriu a autonomia universitária e que os agentes não precisavam solicitar autorização da reitoria para realizar a investigação. “A PF não tem compromisso com a falta de pulso da reitoria em gerir os assuntos da universidade. (…) Autonomia universitária não deve ser confundida com licença para baderna. Nós não temos compromisso se a reitora com seu comportamento condescendente pretende transformar a universidade em uma república de maconheiros”, disse em entrevista coletiva o delegado Paulo Cassiano Júnior.
O Ministério da Educação, responsável pelas instituições federais de ensino superior, pediu ao Ministério da Justiça que analise os fatos ocorridos no campus. Por meio de nota, afirmou que “tão logo receba as informações, tomará as medidas cabíveis, com o rigor que o caso exige”.
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