quinta-feira, março 28, 2024
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650 alunas foram envenenadas no Irã, aponta levantamento

Um levantamento da BBC concluiu que pelo menos 650 alunas foram envenenadas no Irã — o que finalmente foi reconhecido, no domingo (26/2), por uma autoridade do país.

Nenhuma estudante morreu, mas dezenas foram internadas com problemas respiratórios, náuseas, tonturas e fadiga.

“Ficou evidente que algumas pessoas desejavam que todas as escolas, especialmente as femininas, fossem fechadas”, disse o vice-ministro da Saúde do Irã, Younes Panahi, em entrevista coletiva no fim de semana.

A única declaração oficial até então havia sido a do procurador-geral de que uma investigação criminal sobre os envenenamentos havia sido aberta e que as intoxicações poderiam ser “intencionais”.

Nos últimos três meses, várias alunas relataram sentir cheiro de tangerina ou peixe podre antes de adoecer.

“Os produtos químicos usados não são de esfera militar e estão disponíveis ao público”, acrescentou Panahi. “As estudantes não precisam de nenhum tratamento invasivo e é preciso manter a calma.”

O vice-ministro e médico disse posteriormente que sua declaração foi “mal interpretada” — um sinal de divisões entre as autoridades iranianas sobre como gerir a crise, enquanto nenhum culpado foi identificado publicamente.

A cidade religiosa de Qom está no epicentro do envenenamento em massa, mas ataques ocorreram em até oito cidades iranianas.

A indignação pública continua a crescer.

O primeiro envenenamento ocorreu em 30 de novembro de 2022, quando 18 alunos da escola técnica de Nour, em Qom, foram levados ao hospital após apresentarem sinais de envenenamento.

Desde então, mais de dez escolas femininas foram atacadas na região.

Em meados de fevereiro, pelo menos 100 pessoas protestaram em frente ao gabinete do governador em Qom.

“Você é obrigado a garantir a segurança das minhas crianças! Eu tenho duas filhas”, gritou um pai em um vídeo amplamente compartilhado nas redes sociais. “Duas filhas… e tudo o que posso fazer é não deixá-las ir para a escola.”

“Isto é uma guerra!”, disse uma mulher na mesma ocasião. “Eles estão fazendo isso em uma escola secundária para meninas em Qom para nos forçar a ficar em casa. Eles querem que as meninas fiquem em casa!”

Alguns pais dizem que suas filhas ficaram doentes por semanas após o envenenamento.

Um vídeo filmado em um hospital mostra uma adolescente deitada e atordoada na cama, com a mãe ao lado.

“Queridas mães, sou mãe e minha filha está em uma cama de hospital e seus membros estão fracos”, diz a mãe desesperada.

“Eu a belisco, mas ela não sente nada. Por favor, não mande suas crianças para a escola.”

Contestações à versão oficialQom é lar de importantes líderes religiosos do islamismo xiita, a espinha dorsal da República Islâmica.

Mas seu poder foi desafiado desde a morte de uma jovem curda, Mahsa Amini, em setembro do ano passado. Ela estava sob custódia da polícia por supostamente não usar o véu “adequadamente” em sua cabeça.

Alguns iranianos se perguntam se o envenenamento de meninas é uma “vingança” pelo papel delas em grandes protestos contra o governo após a morte. As redes sociais foram inundadas com imagens de alunas arrancando seus véus da cabeça.

Muitos também especularam que esses ataques são obra de defensores de linha-dura que querem “copiar” o Talebã no Afeganistão e o grupo militante islâmico Boko Haram na Nigéria — aterrorizando os pais para que parem de enviar suas filhas à escola.

“O Boko Haram veio para o Irã?” perguntou o ex-vice-presidente iraniano, Mohammad Ali Abtahi, no Instagram.

O político reformista acrescentou que “os extremistas interpretarão os limites do governo e da religião a seu favor”.

O regime iraniano tradicionalmente refutou as críticas à sua conduta em relação às mulheres e gabou-se do número de mulheres que frequentam as universidades.

Mas se as meninas não terminam a escola, a faculdade é apenas um sonho distante.

Os comentários de uma estudante, que diz ter sido envenenada duas vezes, na reunião com o governador de Qom destacam como algumas das declarações das autoridades foram vagas e enganosas.

“Eles [as autoridades] nos dizem que está tudo bem, que uma investigação foi feita. Mas quando meu pai foi à minha escola, foi dito que o circuito interno de TV está inoperante há uma semana e não há como investigar”, disse a estudante.

“E quando fui envenenada pela segunda vez no domingo, o diretor da escola disse: ‘Ela tem um problema cardíaco, é por isso que está hospitalizada’. Mas eu não tenho nenhum problema cardíaco!”

ClickPB

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