quinta-feira, abril 25, 2024
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70% das mortes por Síndrome Respiratória em Minas são por causa indeterminada e governo admite falha em testes

Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) é um conjunto de sintomas comuns a várias doenças, entre elas, a Covid-19. Estado tem a 9ª menor taxa de mortalidade pelo coronavírus do país, com 2,4%.

Apesar de a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) determinar a realização de testes de Covid-19 em todas as mortes classificadas como casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), 70% dos óbitos registrados desde o início deste ano até 13 de junho não tiveram causa definida, seja por falta de realização de exames ou pela execução inadequada do diagnóstico. Paralelamente, o estado tem uma das taxas de letalidade de Covid-19 mais baixas do país, de 2,4%, enquanto o Brasil é de 4,63%.

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) reconhece o problema e afirma que o baixo índice de óbitos de SRAG que são diagnosticados se deve à dificuldade para realizar a coleta de material para testes de forma adequada ou em tempo hábil. O G1 mostrou nesta terça-feira (23), o estado é o que menos testa no Brasil, com 155 exames feitos a cada 100 mil habitantes.

De acordo com a SES-MG, todo caso em que há dificuldade respiratória, além de outros sintomas como febre, coriza e tosse, é classificado como Síndrome Respiratória Aguda Grave. Ainda de acordo com a secretaria, todos os pacientes hospitalizados com esta condição ou que morrem têm que passar por testes para detectar Covid-19.

Entretanto, quando se analisa os dados de Síndrome Respiratória em Minas Gerais, até o dia 13 de junho, foram contabilizadas 2.220 mortes. Destas, 15 foram por influenza, 1 por outros vírus, 486 por Covid-19 e 148 permaneciam em investigação. O restante, 1.570, ficou sem diagnóstico. A informação está no último Boletim da Gripe divulgado na semana passada pela Secretaria.

O número de mortes por SRAG sem causa definida vem aumentando, de acordo com dados da própria SES-MG. Pelo Boletim da Gripe do dia 26 de maio, até o dia 16 daquele mês, dos 1.259 óbitos registrados, 173 eram por Covid-19 e 997 não tiveram diagnóstico definido.

O epidemiologista e professor do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Stefan Vilges, defende que o volume muito grande de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) sem causa definida pode ser, em sua maioria, casos de Covid-19 que não foram devidamente diagnosticados.

“Ou não estão sendo feitas coletas de forma adequada ou nem estão fazendo a coleta mesmo. Muitas vezes, o médico não tem recursos e, por falta de um diagnóstico mais específico, acaba fazendo um mais ampliado, fechando como uma das causas clínicas, que é a Síndrome Respiratória Aguda Grave, e, não, como Covid”, explicou.

Coleta não foi feita

Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde confirmou que “o percentual de casos que não teve amostragem processada se refere a situações em que os municípios não conseguiram realizar coleta de forma adequada ou em tempo hábil.”

Ainda segundo a pasta, além da coleta inadequada, armazenamento e transporte das amostras também podem influenciar na falta de diagnóstico para as mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave. Outros fatores também estariam associados, como tempo entre coleta e início de sintomas, tipo de material coletado e a possibilidade de o paciente estar com pouca carga viral.

A Secretaria informou que estruturou uma rede de laboratórios parceiros à Fundação Ezequiel Dias para que as amostras sejam analisadas próximo aos locais onde foram feitas as coletas. E que tem capacitado profissionais e prestadores de serviços de saúde sobre os procedimentos de coleta.

Para Stefan Vilges, subnotificar o número de mortes é grave. “Entre as principais consequências de subnotificação de mortes, está em subestimar o problema que a gente está vivenciando. Os gestores estão utilizando destes números para adotar as medidas de flexibilização. Se para os óbitos, que deveriam ser mais identificados, existe subestimativa, nós estamos trabalhando com risco muito grande, de estarmos criando sensação de segurança que a gente não tem”, concluiu o epidemiologista.

Protocolo para diagnóstico em caso de mortes

Para tentar reduzir os casos sem diagnóstico, a Secretaria de Estado de Saúde elaborou e disponibilizou um protocolo o Plano Estadual de Contingência de Óbito que determina, entre outros, detalhes de condutas que deverão ser adotadas em caso de morte de pessoas que apresentavam sintomas de Covid-19, mas não chegaram a ser testadas.

O protocolo só foi publicado no dia 15 de maio, há pouco mais de um mês, quando Minas Gerais já registrava 146 mortes confirmadas pela doença.

De acordo com o Governo do Estado, no caso de óbitos em casa, a declaração de óbito e a coleta de amostra ficarão a cargo da equipe de plantão do Programa de Saúde da Família, onde o serviço existir. Onde não haja PSF, o médico do serviço de saúde mais próximo é que faz a coleta e a declaração de óbito. O G1 perguntou à Secretaria de Estado de Saúde quantos óbitos foram registrados em casa de casos suspeitos de Covid-19, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.

Covas no Cemitério da Paz, em BH — Foto: TV Globo/ Reprodução

Em caso de morte de paciente que não estava em tratamento em casa, qualquer médico pode realizar a declaração de óbito e fazer a coleta nos casos suspeitos de Covid-19. Em locais onde não existam Programa de Saúde da Família, mas exista base do Samu com previsão de médico, é o Samu que deverá fazer a declaração de óbito e coleta do material.

De acordo com a Secretaria, todos os óbitos suspeitos de Covid-19 devem ser notificados no sistema próprio, denominado SIVEP-Gripe. As amostras devem ser colhidas em até 24 horas após a morte, caso não tenha sido feito em vida.

Letalidade

Minas Gerais está em 9º lugar no ranking das taxas de letalidade de Covid-19 mais baixas no Brasil, empatado com Roraima. Por diversas vezes, o governador Romeu Zema (Novo) citou o baixo índice de mortes para mostrar o sucesso do estado na luta contra o coronavírus.

Para Stefan Vilges, a baixa letalidade pode estar associada a falta de testagem não só nos casos confirmados, mas também no de óbitos.

“Quando nós temos um volume grande de casos que são classificados como SRAG, estes casos potencialmente estão mascarando os casos que seriam a Covid-19. E com isso a gente acaba tendo o indicado, a letalidade, enviesado, por conta de não conseguir detectar o agente etiológico nestes casos. Quando ampliamos a testagem, vamos melhorar estes indicadores”, explicou

Segundo os dados oficiais do governo de Minas Gerais, o estado teve, até esta terça-feira (23), 720 mortes decorrentes da Covid-19 e 29.897 casos confirmados. São 979 novos casos desde a véspera e 32 óbitos a mais.

Outras 261 mortes seguem em investigação. Os números constam no boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) nesta terça-feira (23).

G1

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