O Arcebispo da Paraíba, Dom Manoel Delson, aprovou as contas de Padre Egídio de Carvalho Neto quando diretor geral do Hospital Padre Zé no dia 20 de abril de 2022. É isso que mostra um documento recebido pelo ParlamentoPB, autenticado em cartório, e que pode ser conferido abaixo citando que foram apresentadas as prestações de contas social e contábil da Associação Social Arquidiocesana (ASA), presidida por Dom Delson. Naquela mesma ocasião foi eleita a nova diretoria da entidade para o quadriênio 2024-2026, que continuou a ser presidida pelo arcebispo e tendo como secretário executivo Padre Egídio. A ASA é composta pelo Instituto São José, responsável pelo hospital de mesmo nome, além de outras entidades filantrópicas como o Centro Social Arquidiocesano São José, a Padaria e Miniusina Mimo do Céu, a Casa de Convivência João Paulo II, Projeto Capacitar, Projeto de Apoio a Pessoas em Situação de Rua e o Projeto de Apoio aos Pacientes Pós-Alta Hospitalar.
Apesar dessa aprovação de contas, o arcebispo declarou em entrevista coletiva no último dia 10 de outubro que não tinha acesso às contas do hospital e que o papel da arquidiocese era apenas o de indicar um padre para suceder o Padre José Coutinho, que fundou a instituição de caridade para atender os mais pobres.
“Uma coisa muito importante que a sociedade saiba é que a diocese não tinha uma ingerência direta no hospital. Pelo estatuto do hospital, cabe à diocese indicar um padre sucessor do Padre Zé para presidir a instituição Instituto São José. Não tínhamos como chegar ao hospital e pedir prestação de contas. Não tinha como a gente saber o que estava entrando, o que estava saindobdas prestações de contas porque era o presidente que assinava tudo”, disse Dom Delson na coletiva.
No documento, contudo, está explícito que Egídio e a contadora Giovana Roque apresentaram os dados social e contábil.
Uma denúncia anônima apresentada ao Ministério Público da Paraíba acusava o arcebispo de ter conhecimento dos desvios de dinheiro no Padre Zé. “O arcebispo da Paraíba é ciente, que por sinal já recebeu um veículo Jeep Compass 2019 (Placa QSF-6748) como pagamento de propina”, diz o documento.
Em outubro, quando essa informação chegou à imprensa, a assessoria da Arquidiocese afirmou que o arcebispo já havia confirmado, em entrevista coletiva no dia 10 de outubro, que não estava ciente dos desvios ocorridos no Hospital Padre Zé e nas duas outras instituições investigadas. Sobre o veículo, a assessoria não se pronunciou.
O promotor Dennys Carneiro, do Gaeco, resumiu o comportamento de Padre Egídio enquanto gestor: “Ele tratava as contas do Instituto São José e da Ação Social Arquidiocesana como se dele fossem”. E acrescentou: “O dinheiro transitava da forma como ele queria e para onde ele queria. Isso tudo aliado a total e completa desorganização documental. O Instituto São José tem quase nenhum documento patrimonial, de acervo, de estoque… nenhum”.
Reprodução de trechos do Fantástico de 20/11/2023
O ParlamentoPB entrou em contato com a assessoria da Arquidiocese da Paraíba na manhã desta segunda-feira, 20, e aguarda um posicionamento de Dom Delson a respeito do documento que comprova uma prestação de contas apresentada a ele durante a assembleia realizada em abril do ano passado. Tão logo seja emitido, será publicado.
Padre Egídio, a ex-diretora administrativa Jannyne Dantas e a ex-tesoureira Amanda Duarte tiveram as prisões decretadas na última sexta-feira, por determinação do desembargador Ricardo Vital, relator do processo que apura denúncia de um desvio de R$ 140 milhões do Hospital Padre Zé desde 2013, um ano depois de Padre Egídio assumir a direção geral da instituição. Egídio está no Presídio do Valentina Figueiredo, enquanto Jannyne ocupa uma cela da Penitenciária Júlia Maranhão. Amanda cumpre prisão domiciliar porque tem um filho de quatro meses.