sexta-feira, abril 19, 2024
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É #FAKE que vacina chinesa em testes no Brasil use células de fetos abortados

Parceria de empresa da China com o Instituto Butantan, imunizante citado em mensagem falsa tem por base coronavírus cultivado em células de macaco e inativado.

Uma mensagem que diz que a vacina chinesa contra o novo coronavírus testada no Brasil utiliza células de bebês abortados tem viralizado na internet. Mas ela é #FAKE.

A CoronaVac, desenvolvida pela empresa da China Sinovac, e em fase de testes no Brasil em 9 mil voluntários, em parceria com o Instituto Butantan, usa células de uma espécie de macaco infectadas pelo Sars-CoV-2, inativado, e não de humanos fetos abortados.

Existem, sim, imunizações que partem deste tipo de material, replicado em laboratório – numa técnica existente há mais de 50 anos e amplamente aceita no mundo científico –, mas não é este o caso da CoronaVac, que busca atestar a resposta imune dos voluntários com a aplicação de duas doses.

Procurado pela CBN, o Instituto Butantan esclarece o mecanismo da CoronaVac: “Para o desenvolvimento e a produção da vacina para a Covid-19, em parceria com a farmacêutica Sinovac, é utilizada a cultura de células vero, uma linhagem de células epiteliais renais de macaco-verde africano (Cercopithecus aethiops)”.

“Essa cultura de célula é obtida e controlada em laboratório, e não envolveu o uso de animais, uma vez que são conservadas em tambores com vapor de nitrogênio, e estão à disposição para o uso em pesquisas, produção de vacinas e outros produtos”, afirma o instituto, em nota enviada à CBN.

O Butantan ressalta ainda que a técnica é aprovada para uso em produção de vacinas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e segue padrões rigorosos de segurança.

A mensagem falsa traz uma foto do governador João Doria com a seguinte legenda: “Células de bebês abortados são utilizadas para produção de vacina chinesa. Será que o Doria vai revelar isso em suas coletivas de imprensa?”

Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e investigador no Hospital das Clínicas do ensaio clínico de fase 3 da CoronaVac, o infectologista Esper Kallas refuta a afirmação contida na mensagem, e explica que o funcionamento do imunizante é semelhante ao de vacinas contra a raiva e a dengue. “O novo coronavírus é morto em laboratório. A produção é realizada de forma que lembra também a produção da vacina da gripe, que milhões de brasileiros tomam todos os anos”, diz.

No caso de imunizantes que se valem de cultura de vírus em materiais derivados de tecidos embrionários, trata-se de linhagens de células, Kallas explica, ou seja, de células derivadas de fetos e que não perderam as características originais – e não novos tecidos de novos fetos abortados, portanto.

“Mas não é este o caso da CoronaVac. Cada pesquisa de vacina escolhe a linhagem apropriada para sua produção. De qualquer forma, quando se usa, são empregadas linhagens de células já estabelecidas em laboratório há anos. Não são novos fetos abortados. É algo tradicional em métodos de biotecnologia”, aponta Kallas.

O virologista Rômulo Neris, doutorando pela UFRJ, lembra que o uso desses tecidos é necessário para a produção de imunizantes importantes para a saúde pública. “Vacinas precisam utilizar células estáveis capazes de produzir vírus em grandes quantidades, e em pouco tempo, para inativação. A CoronaVac usa células de rim de macaco verde africano para este fim. É importante ressaltar que células utilizadas na pesquisa de vacinas são em geral células estáveis há décadas em uso pela ciência tanto para a produção de vacinas como para a pesquisa de drogas, por exemplo”, diz Neris.

É importante frisar que a técnica não é novidade nem devia provocar espanto, aponta Neris; pelo contrário: eticamente, trata-se de ponto pacífico no meio acadêmico-científico. “O uso dessas células é algo bem aceito e usado com frequência na pesquisa. Estas células são obtidas em geral com consentimento do doador e respeitando procedimentos éticos de coleta e uso. Esse procedimento não costuma ser alvo de debate na academia, sendo que muitas estão em uso em alguns casos há mais de 50 anos.”

O infectologista Ralcyon Teixeira, diretor da Divisão Médica do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, vê na disseminação deste tipo de informação uma afronta à ciência. “É mais uma tentativa de desqualificar, desmerecer as pesquisas. É lamentável que isso exista, ainda mais num momento tão crítico quanto esse, em que as vacinas são a única forma que a gente enxerga de reduzir os casos graves e de tentar voltar a um novo normal. É lamentável que essa fake news seja propagada e é muito importante que todos saibam que podem ficar tranquilos quanto à vacina.”

Vacina de Oxford

Renata Alvim, professora da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisadora no Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE/UFRJ), também rechaça o boato e diz que, mesmo com relação à vacina de Oxford, falar em células de fetos abortados é fazer uma interpretação equivocada. “Em primeiro lugar, as células utilizadas nos processos em desenvolvimento não são as originais, já que são replicadas in vitro há mais de 40 anos e usadas para produção de medicamentos e produtos para uso humano desde pelo menos 2001.”

A professora diz que as vacinas são éticas e seguras. E se diz preocupada que a deturpação de informações leve a decisões erradas. “A gente tem realmente que desmistificar isso. Essas polêmicas são levantadas pelos movimentos antivacina há alguns anos. Isso é um problema grande porque as pessoas acreditam e acabam não tomando a vacina.”

Muitas das mensagens se baseiam em princípios religiosos para fazer os ataques. Mas a própria Academia Pontifícia para a Vida, com sede no Vaticano, deixa claro, em um documento, sua posição sobre o tema.

“As características técnicas da produção das vacinas mais comumente usadas na infância nos levam a excluir que existe uma cooperação moralmente relevante entre aqueles que hoje usam essas vacinas e a prática do aborto voluntário. Portanto, acreditamos que todas as vacinas clinicamente recomendadas podem ser usadas com a consciência limpa e que o uso de tais vacinas não significa algum tipo de cooperação com o aborto voluntário.”

É #FAKE que vacina chinesa em testes no Brasil use células de fetos abortados — Foto: Reprodução

É #FAKE que vacina chinesa em testes no Brasil use células de fetos abortados — Foto: Reprodução

G1

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