O Fluminense sofreu. Foram 35 rodadas de suor, sufoco e muito drama tricolor. Sempre jogando no limite, sempre abusando do coração da torcida. Mas vencendo. Foi assim do início ao fim. Enquanto todos criticavam o futebol do líder, conspiravam e praguejavam, o time de Abel Braga se preocupou só em ganhar seus jogos. Neste domingo, diante do Palmeiras, a 22ª vitória de uma campanha espetacular, a mais eficiente de todos os tempos. Foram 76 pontos e fim de papo: Flu tetracampeão brasileiro!
E como sofreu o Fluminense. Há pouco mais de dez anos, o clube viveu a pior fase dentre os doze maiores do Brasil. Uma sequência desastrosa de rebaixamentos, que começou no pesadelo de 1996 e terminou no fundo do poço da Terceira Divisão de 1999. O tradicional Tricolor das Laranjeiras parecia em um caminho irreversível de fracassos. Mas, apesar de todas as chacotas, a torcida manteve-se fiel e o time foi a campo para conquistar a Série C.
Se coube a um time de operários comandado por Carlos Alberto Parreira a missão de tirar o Fluminense do buraco em que se encontrava, coube ao Time de Guerreiros recolocá-lo definitivamente o clube no hall das maiores potências do país. Se o clube carioca ainda era visto com desdém devido à manobra política que o fez subir direto da C para a A em 2000, o desempenho nos últimos anos mostra que o Flu está de volta ao topo. Após a sensacional fuga do rebaixamento em 2009, Fred e companhia levaram os tricolores a dois títulos brasileiros em três anos, com um terceiro lugar no meio do caminho.
Depois de tanto sofrimento, de tanta humilhação, o quarto título brasileiro chega na sala de troféus das Laranjeiras com gosto de redenção. E com um aproveitamento histórico. A marca de 76 pontos na 34ª rodada é a melhor dos dez anos de pontos corridos. Para superar o São Paulo de 2006 como melhor campanha do campeonato com 20 clubes, basta vencer um dos três jogos restantes (Cruzeiro, Sport e Vasco).
Além da pontuação impecável, o Fluminense é soberano em todos os aspectos da tabela do Brasileirão. O time possui o melhor ataque (58), a melhor defesa (28), o maior número de vitórias (22), o menor número de derrotas (3) e o artilheiro da competição (Fred, 19).
Se os números da conquista tricolor impressionam, o futebol apresentado esteve longe de ser unanimidade. O esquema do técnico Abel Braga foi alvo constante de críticas. Ora pelo pragmatismo excessivo, ora por sempre recuar quando conseguia vantagem, ora por precisar demais das intervenções do goleiro Diego Cavalieri. Até de abusar da sorte o Fluminense foi acusado.
De fato, jogar “na conta do chá” foi a marca do tetracampeão. Nos aproximadamente 3150 minutos que jogou no campeonato, o Flu só esteve com dois gols de vantagem sobre o adversário em 216. O restante foi de puro sufoco. Fato que desesperava o torcedor tricolor, que, mesmo vitorioso, sentia em um time de tanta qualidade a capacidade de conseguir os pontos de forma menos dramática.
No entanto, o que poderia parecer um defeito acabou se revelando a grande virtude do Fluminense-2012. Ciente do seu poderio, a equipe sempre jogou suas partidas esperando o momento certo de dar o bote. A fórmula e ra mais ou menos a seguinte: 1) Gum, em um campeonato acima da média, se virava enquanto o adversário pressionava. 2) Quando não tinha jeito, Cavalieri operava milagres para evitar os gols. 3) Jean, o motor da equipe segurava a posse de bola e organizava, a seu ritmo, a jogada letal. 4) Wellington Nem, endiabrado, fazia um carnaval na defesa adversária. 5) Gol do Fred.
E assim, cirúrgico, o Fluminense foi derrubando seus adversários um a um. Agora, por fim, chega ao merecido prêmio de recompensa. O futebol-arte pouco importa neste momento. O torcedor tricolor vai às ruas festejar, cantar e mostrar toda a felicidade de ser tetracampeão brasileiro. Como diz o hino do clube, “quem espera sempre alcança”. E os dias negros nas Laranjeiras, de uma vez por todas, ficaram para trás.
CINCO VITÓRIAS CHAVE:
Vasco 1 x 2 Fluminense
Fluminense 3 x 1 Santos
Flamengo 0 x 1 Fluminense
Bahia 0 x 2 Fluminense
Palmeiras 2 x 3 Fluminense
MELHOR JOGADOR: Diego Cavalieri (goleiro) – Sempre que o Fluminense precisou, ele estava lá. Seja com as defesas espetaculares que viraram rotina ou passando segurança ao time com a sua frieza característica. De semblante normalmente fechado, Cavalieri é discreto nas comemorações. Mas o papel de protagonista no título do Flu certamente é tido por ele como uma grande vitória pessoal. O Paredão Tricolor passou três anos difíceis na Europa, sem chances no Liverpool (ING) e no Cesena (ITA). Agora, é aclamado por muitos como o possível camisa 1 da seleção brasileira.
ARTILHEIRO: Fred (19 gols) – O capitão tricolor sempre foi muito querido pela torcida, especialmente após comandar a incrível fuga do rebaixamento de 2009. No entanto, como passou grande parte da campanha de 2010 lesionado, ainda faltava alguma coisa para Fred entrar definitivamente na história do Fluminense. Não falta mais. Além de ser o grande líder da equipe dentro de campo, o camisa 9 abusou de ser decisivo neste Brasileirão – contra o Flamengo, por exemplo, garantiu as duas vitórias por 1 a 0. São 19 gols no total, que lhe garantem o posto de artilheiro do campeonato até aqui. Capitão, matador e campeão. Fred jamais será esquecido nas Laranjeiras.
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