Ao ter Vitória, ela chegou a fazer uma cirurgia nos olhos para corrigir o descolamento da retina na tentativa de impedir a perda permanente da visão. Ela teria dois anos para ver como seria a reação após o procedimento, mas não teve jeito e Carla não voltou a enxergar.
Carla ao lado da filha, Vitória, na foto usada como modelo em 3D, Piracicaba — Foto: Carla Neves/Arquivo pessoal
“Se você me perguntar, a cirurgia foi um sucesso, pelo pouco que eu enxergo [risos]”, conta Carla com bom humor ao explicar que hoje tem 5% de visão no olho direito, o que permite que, ao menos, ela veja “só luz” em um dos lados.
Mas após fazer esta escolha, ao sentir a filha nos braços e ouvi-la, Carla não tem nem palavras para explicar a sensação do que fez.
“Só eu mesma [pra saber]. É o toque né… eu acho que só o amor que eu dou pra ela vale mais do que ver.”
“Tem muita gente que fala que no meu lugar não teria coragem… Mas é por outra vida né, e uma que eu gerei. É um ato de amor.”
Ela conta que só conseguiu aceitar a nova condição e procurar a ONG Avistar, em Piracicaba, três anos após perder a visão. Mariana Turrioni, que teve a ideia de dar a foto de presente, é professora de braile de Carla.
“A Carla sempre perguntou como a filha era, os olhos, se era puxado, tamanho do olho, o cabelo, o perfil da menina. Aí quando a empresa falou da impressora, na hora surgiu essa ideia, pra trabalhar essa noção de espaço, detalhes do rosto, até coordenação motora para identificação e reconhecimento da foto. Aí como ia ser o Dia das Mães, a gente pensou de fazer a surpresa”, conta.
Mariana então pediu autorização para a coordenadora da ONG e combinou com o Mateus de Souza Rocha, dono da empresa, de fazer o modelo. O contato vinha de ante, já que ele fazia doações para a ONG de material em 3D para alfabetização em braile.
Fotografia em 3D foi entregue de presente do Dia das Mães para Carla, que nunca enxergou a filha — Foto: Mateus de Souza Rocha/Arquivo pessoal
“A Mariana me enviou uma foto que pegou no Facebook da Carla e, a partir da fotografia dela com a filha, fizemos a conversão para 3D e imprimimos o modelo. Foi o primeiro que fizemos para essa finalidade, por isso, não sabíamos se funcionaria”, conta Mateus.
Ele conta que o maior receio era de que ela não conseguisse identificar os traços da filha na foto, o que logo passou quando viram Carla tocando o rostinho da Vitória na imagem e começando a chorar de emoção.
“Foi muito gratificante perceber que, com tão pouco da nossa parte, podemos criar momentos mágicos. Levamos a nossa filha Lara para participar da entrega e ela ficou muito emocionada também.”
Ele e a mulher, Daiana Ladislau Coutinho, são parceiros na empresa e fizeram a entrega juntos da fotografia.
“Eu nunca tinha vivido um momento assim tão legal”, conta a professora Mariana. “De reconhecer e ver [ela vendo] a filha dessa forma.”