domingo, dezembro 7, 2025
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O que são as ‘ligações mudas’ e quais os riscos em atender?

Por trás do silêncio, podem existir mecanismos de coleta de informação, validação de contatos ativos e até engenharia social com fins criminosos

Você atende o celular, diz “alô”, espera alguns segundos… silêncio absoluto. Ninguém responde. Em alguns casos, a chamada cai imediatamente. Esse fenômeno, conhecido como ligações mudas, tornou-se cada vez mais frequente no Brasil e no mundo, causando desconforto, insegurança e, muitas vezes, levantando suspeitas: estamos diante de simples falhas técnicas ou de possíveis golpes digitais?

Com o avanço das tecnologias de automação de chamadas, robôs discadores e operações de telemarketing, esse tipo de ligação deixou de ser uma curiosidade e passou a ser objeto de estudo em segurança da informação, privacidade e proteção de dados pessoais. Afinal, por trás desse silêncio, podem existir mecanismos de coleta de informação, validação de contatos ativos e até engenharia social com fins criminosos.

Neste artigo, esclareço o que são as ligações mudas, por que elas acontecem e quais os riscos de atender — especialmente diante do contexto atual de golpes digitais cada vez mais sofisticados.

O que são as ligações mudas

O termo “ligação muda” refere-se a chamadas telefônicas em que o interlocutor atende, mas não há nenhum som do outro lado. Elas podem ser resultado de diversas origens:

  • Sistemas automáticos de discagem que ligam para múltiplos números ao mesmo tempo;
  • Centrais de telemarketing ou cobrança testando a disponibilidade da linha;
  • Testes de conexão entre sistemas VoIP e operadoras;
  • Operações criminosas verificando se o número é verdadeiro e se pertence a alguém que atende.

As empresas que utilizam discadores automáticos fazem chamadas em massa para identificar quais linhas estão ativas. Quando alguém atende, o sistema simplesmente registra: este número existe, atende e pode ser incluído em uma base verdadeira. Ou seja: o silêncio não significa ausência de intenção — pelo contrário, muitas vezes é o objetivo final.

Quando o silêncio não é inocente

Embora algumas ligações mudas possam ocorrer por falhas técnicas, é impossível ignorar o crescimento de estruturas criminosas de engenharia social e fraudes telefônicas no Brasil.
Organizações especializadas em golpes digitais usam esse tipo de ligação como uma etapa preliminar para validar números e identificar potenciais alvos.

  1. O golpista dispara ligações silenciosas para milhares de números;
  2. Quem atender é considerado “potencial vítima”;
  3. A base de contatos ativos é então usada para:
    • golpes financeiros por ligação;
    • tentativas de phishing telefônico (vishing);
    • coleta de dados sigilosos;
    • clonagem de WhatsApp;
    • falsas cobranças;
    • supostas ligações de bancos e instituições públicas;
    • venda do número para terceiros.

Para criminosos, o simples ato de atender confirma três dados importantes:

  • O número existe;
  • Pertence a alguém real;
  • Essa pessoa costuma atender chamadas desconhecidas.

É exatamente o perfil buscado por fraudadores.

O que pode acontecer depois

É comum que, após atender uma chamada muda, o cidadão passe a receber:

  • Ligações se passando por bancos;
  • Solicitações de confirmação de dados pessoais;
  • Mensagens de cobrança de dívidas inexistentes;
  • Ofertas suspeitas;
  • Links fraudulentos;
  • Retorno de ligações com tarifação especial.

Criminosos exploram o uso do telefone como porta de entrada para fraudes porque ainda existe forte confiança das pessoas em contatos “oficiais”. O telefone transmite proximidade. A voz convence. E a pressa confunde. A ligação muda é apenas o primeiro passo.

Privacidade e LGPD: sim, há impacto

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) protege qualquer dado que identifique diretamente uma pessoa. O número de telefone é um deles. Logo, práticas que visam classificar, armazenar, vender ou utilizar números válidos sem base legal e sem consentimento violam direitos fundamentais de privacidade.

Se uma ligação muda resulta na criação de cadastros, perfis ou listas utilizadas em ações comerciais ou fraudulentas, estamos diante de tratamento irregular de dados e, em casos de golpe, de atividade criminosa. A LGPD não se limita à internet. A comunicação via telefone também exige transparência, finalidade e legitimidade.

Engenharia social: o que está por trás das chamadas

Grande parte dos golpes digitais hoje nasce na engenharia social: manipulação psicológica para induzir alguém a agir contra os próprios interesses. Quando alguém atende uma ligação muda, registra-se um comportamento humano que interessa ao fraudador:

“Se eu ligar futuramente fingindo ser banco, essa pessoa vai atender.” A partir daí, criminosos adaptam o discurso conforme o perfil das vítimas:

  • medo de bloqueio de conta bancária,
  • ameaça de cancelamento de cartão,
  • suposta investigação,
  • atualizações de dados cadastrais,
  • ganhadores de prêmios,
  • notas fiscais,
  • empréstimos,
  • renegociações.

Tudo começa com a prova de vida da linha telefônica.

Golpes que podem se originar de chamadas mudas

 Golpe bancário

Ligações fingindo ser do setor antifraude pedem:

  • Dados do cartão;
  • Códigos SMS;
  • CPF;
  • Senhas parciais.

 Clonagem de WhatsApp

Criminosos usam sua linha validada para solicitar códigos de autenticação com justificativas falsas.

 Tarifas internacionais

Ao retornar ligações, vítimas acabam pagando tarifas altíssimas para números em outros países.

 Venda de dados

Bases com números ativos são comercializadas entre fraudadores e spammers.

Em muitos casos, as chamadas mudas não são criminosas. São apenas operações comerciais desordenadas. Discadores automáticos ligam para milhares de pessoas simultaneamente, mas nem sempre há atendentes suficientes na central. Quem atende “cedo demais” enfrenta alguns segundos de silêncio.

O problema é que a prática está sendo sequestrada por criminosos, e o cidadão não tem como diferenciar a origem. Por isso, o cuidado precisa ser preventivo — e o critério não deve ser confiar “porque parece normal”.

Como se proteger

  1. Não retorne chamadas de números desconhecidos.
    Golpes internacionais usam tarifação especial.
  2. Se a ligação for silenciosa, desligue imediatamente.
    Não espere ninguém falar.
  3. Nunca forneça dados por telefone.
    Instituições sérias não pedem senhas, token, código SMS ou dados sigilosos por ligação.
  4. Ative o bloqueio de chamadas suspeitas.
    iPhone e Android permitem bloquear números desconhecidos ou marcar como spam.
  5. Cadastre-se no “Não Me Perturbe”.
    Isso reduz chamadas comerciais legítimas.
  6. Anote e denuncie números insistentes.
  7. Se algo soar urgente demais, é golpe.
    Criminosos usam pressão emocional para gerar decisões impulsivas.

O silêncio que ensina: prudência

Vivemos em uma era em que a tecnologia ampliou tanto as oportunidades quanto os riscos.
As ligações mudas representam exatamente isso: uma janela para o benefício (comunicação legítima) e ao mesmo tempo porta de entrada para manipulações.

Com o crescente uso de inteligência artificial na geração de vozes falsas, deepfakes por telefone e sistemas de resposta automatizada, validar o número da vítima é, para o crime digital, etapa estratégica. Se o fraudador sabe que você atende, tem meio caminho andado.

As ligações mudas não são apenas incômodas. São sinais.
Podem indicar desde falhas técnicas até mecanismos de triagem para golpes digitais. Ninguém escolhe ser vítima, mas todos podemos escolher o quanto expomos nossos dados.

Se a ligação é desconhecida, silenciosa ou suspeita, a melhor resposta é simples: não atender, não retornar, não fornecer informações. Num mundo cada vez mais conectado, proteger o que parece pequeno — como um número de telefone — é proteger muito mais: privacidade, identidade, patrimônio e segurança digital.

Fonte: Jovem Pam

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