terça-feira, maio 7, 2024
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Países ricos correm para reservar vacinas da covid-19. Mas e os pobres?

Enquanto uma vacina não fica disponível, é difícil mensurar quão rápido ela chegará em locais mais necessitados

A corrida para encontrar uma vacina contra o novo coronavírus está bastante acirrada. Cerca de 136 estão em desenvolvimento atualmente, algumas mais avançadas do que as outras. A Coronavac, feita pela chinesa Sinovac, está entre as fases 1 e 2 de produção. Segundo a agência Bloomberg, mais de 90% das pessoas que receberam doses da vacina produzida pelo laboratório produziram anticorpos contra a covid-19 num intervalo de 14 dias. Outra que está tendo bons resultados é a da Universidade de Oxford, no Reino Unido, que está na fase 3 de testes.

E os países mais ricos estão investindo pesado para encontrar uma cura para a covid-19. Em maio, o Reino Unido investiu 79 milhões de dólares no programa de Oxford em troca de recer 30 milhões de doses. Já os Estados Unidos asseguraram 300 milhões de doses da mesma vacina ao assinar um acordo de até 1,2 bilhão de dólares com a farmacêutica britânica AstraZeneca.

A Alemanha, a Itália, a França e os Países Baixos também não ficaram para trás e assinaram um acordo com a mesma farmacêutica para receber 400 milhões de doses até o final de 2020. E em 17 de junho, a União Europeia criou uma Estratégia de Vacina Europeia para garantir o acesso à proteção para todos os integrantes do bloco econômico e 2,3 bilhões de dólares podem ter sido investidos nisso.

Segundo o relatório A Corrida pela Vida, produzido pela EXAME Research, unidade de análises de investimentos e pesquisas da EXAME, as pesquisas para o desenvolvimento de uma vacina já contam com o financiamento de pelo menos 20 bilhões de dólares no mundo. Desse valor, 10 bilhões foram liberados por um programa do Congresso dos Estados Unidos.

Mas e os países mais pobres, como ficarão?

Para o doutor Jorge Elias Kalil, que está tentando desenvolver uma vacina aqui no Brasil, se uma proteção for descoberta antes em países mais desenvolvidos, a tendência é que isso demore a chegar por aqui. “Digamos que eu seja a rainha da Inglaterra e a vacina for descoberta em Oxford. Quem é que eu vou imunizar? Primeiro a Inglaterra, depois o Reino Unido, depois eu vou ver meus parceiros, como os Estados Unidos, o Canadá, e depois vamos ver quem vai pagar mais, talvez a China. Por que seria o Brasil?”, pontua ele.

O Brasil, segundo país com o maior número de infectados pela covid-19 no mundo, com 955.377 casos confirmados, segundo o monitoramento em tempo real da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, foi o escolhido para as testagens da chinesa Coronavac, do laboratório Sinovac Biotech, em parceria com o Instituto Butantan. Para o doutor em microbiologia e divulgador científico Atila Iamarino, essa escolha se deu pelo alto número de contágio no país. “O Brasil é palco de testes e vacinas porque aqui os fabricantes têm chance de em pouco tempo ver se as pessoas que se expuseram ao vírus estão protegidas ou não porque a epidemia segue crescendo. Com a Europa toda declinando em casos, com a Ásia em partes também diminuindo os números de infecções, sobra o Brasil”, disse ele em uma transmissão ao vivo em seu canal do YouTube. Outro fator que leva as empresas a testar por aqui é o baixo custo para fazê-lo. “Vale pensar que são vacinas que já chegam aqui tendo passado pela fase de testes de segurança, não é como se estivessem fazendo os brasileiros de cobaia só”, garantiu.

A preocupação não é unicamente de Kalil. Enquanto grandes potências econômicas têm o dinheiro necessário para investir em vacinas próprias, outras sem o mesmo poder capital, como é o caso do Senegal, dependem exclusivamente das ações de empresas de fora. Por lá, a biotech Mologic desenvolveu testes caseiros e rápidos que podem custar até 1 dólar. Mas quanto tempo uma vacina pode demorar para chegar até esses locais?

“Não podemos depender somente da boa vontade para garantir acessso à ela. Demorou dez anos para as drogas contra a aids chegar a países mais pobres”, afirmou Arzoo Ahmed, do Conselho Britânico Nuffield de Bioética à agência de notícias AP.

O programa das Nações Unidas Unaids afirmou que as nações africanas já ficam no fim da linha para o recebimento de medicamentos em pandemias e que isso “será pior caso uma vacina seja encontrada.”

Pensando nisso, a AstraZeneca assinou um acordo de 750 milhões de dólares com a A Coalizão Para Inovações em Preparação para Epidemias (CEPI, na sigla em inglês) e com a Gavi Alliance para assegurar 300 milhões de doses para países pobres. E também fez um acordo com o Instituto Serum da Índia, que receberá 400 milhões de doses reservadas para países de baixa e média renda. A farmacêutica garantiu que não obterá lucros em nações mais necessitadas. O mesmo foi prometido pela americana Johnson & Johnson.

A União Europeia assegurou que tentará fazer com que os países mais pobres não fiquem para trás na fila das vacinas. “Ao falarmos sobre uma pandemia global, não tem espaço para ‘eu primeiro’”, afirmou a presidente para a Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na última quarta-feira.

A China também entrou na briga para o desenvolvimento de uma vacina e prometeu doar qualquer uma que tiver sucesso primeiramente para países no continente africano.

As iniciativas das empresas e dos países são promissoras, mas, enquanto uma vacina não fica disponível, é difícil mensurar o quão rápido ela chegará em locais mais necessitados e com sistemas de saúde mais fragéis.

Até o momento, nenhuma terapia ou vacina tem aprovação clínica ou aval da Organização Mundial da Saúde (OMS) para ser aplicada especificamente a pacientes infectados pelo novo coronavírus.

EXAME

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