Os serviços de resgate do Texas entraram, nesta segunda-feira (7), no quarto dia de buscas de pessoas desaparecidas em meio a alertas para novas inundações. As enchentes que devastaram o estado no sul dos Estados Unidos deixaram um total de ao menos 81 mortos e 41 desaparecidos.
As cheias repentinas foram causadas por tempestades que começaram na tarde de sexta-feira (4). O episódio já é uma das enchentes mais mortais dos EUA nos últimos cem anos.
A cidade de Kerrville, no condado de Kerr, foi a mais afetada, registrando 68 óbitos, incluindo 28 crianças. O Camp Mystic, um acampamento cristão de verão só para meninas, confirmou na manhã desta segunda que ao menos 27 campistas e monitoras morreram. O local, às margens do rio Guadalupe, ficou sem energia, água e sinal de internet.
“Nossos corações estão despedaçados junto com os de nossas famílias que estão enfrentando esta tragédia inimaginável”, diz a nota divulgada nesta segunda. Segundo o jornal The New York Times, as mortes anunciadas já estavam entre as confirmadas pelas autoridades.
Os socorristas ainda enfrentam a possibilidade de novas chuvas nesta segunda. O Serviço Nacional de Meteorologia emitiu alertas para várias regiões do centro do Texas.
Segundo meteorologistas, tempestades em áreas já saturadas de água podem provocar novas inundações repentinas. Helicópteros, drones, barcos e até cavalos têm sido usados para vasculhar regiões cobertas de destroços. As buscas se concentram principalmente nas margens de rios e em zonas rurais de difícil acesso.
A Agência Federal de Gerenciamento de Emergências (Fema) foi acionada após o presidente Donald Trump declarar emergência federal. Aviões e helicópteros da Guarda Costeira dos EUA também ajudam nas buscas.
Trump, que afirmou no domingo (6) que provavelmente visitaria o Texas na sexta-feira (11), já havia expressado planos para reduzir o papel do governo federal na resposta a desastres naturais, transferindo mais responsabilidades para os estados.
A gestão do republicano promoveu uma série de cortes na Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (Noaa, na sigla em inglês), órgão de previsões e alertas que abriga o Serviço Nacional de Meteorologia. O ex-diretor da Noaa Rick Spinrad afirmou à agência de notícias Reuters que a redução deixou muitos escritórios meteorológicos sem funcionários suficientes.
O escritório do Serviço Nacional de Meteorologia responsável pelos alertas no condado de Kerr estava com uma vaga aberta: a de meteorologista de coordenação de alertas, que atua com os gestores de emergência e o público para garantir que todos saibam como agir quando ocorre um desastre.
A pessoa que ocupava o cargo estava entre centenas de funcionários que aceitaram ofertas de aposentadoria antecipada e deixaram a agência no final de abril.
Questionado sobre se os cortes do governo prejudicaram a reação ao desastre, Trump rebateu as críticas no domingo. “Aquela situação da água, isso tudo é, e foi, realmente algo herdado do governo Biden”, disse ele, referindo-se ao seu antecessor, Joe Biden. “Mas eu não culparia Biden por isso também. Apenas diria que isso é uma catástrofe que acontece uma vez a cada cem anos.”
Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU para questões do clima, indicam que eventos climáticos extremos como secas, enchentes, deslizamentos de terra, tempestades e incêndios mais do que triplicaram ao longo dos últimos 50 anos em consequência do aquecimento global.
Outro órgão ligado à ONU, o IPCC (Painel Intergovernamental para a Mudança Climática), já afirmou em relatório que hoje é inequívoco que parte dessas mudanças foi causada pela ação humana.
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