Homem já foi indiciado por estupro e tortura e, segundo a Polícia Civil, nega as acusações. Jovem de 21 anos relatou ter feito vários abortos por causa dos abusos.
O homem que foi acusado pela enteada Eva Luana da Silva, de 21 anos, de estupro e tortura, no município de Camaçari, na região metropolitana de Salvador, foi encaminhado para o sistema prisional e exonerado do cargo de assessor técnico da prefeitura da cidade.
Thiago Oliveira Alves, natural de São Paulo, estava preso na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) de Camaçari desde o dia 13 de fevereiro e, na quinta-feira (21) foi encaminhado para para o Centro de Observação Penal de Salvador, segundo informou a Secretaria de Administração Penitenciária da Bahia (Seap).
O G1 busca contato com a defesa do suspeito, entretanto ainda não obteve sucesso. Ele já foi indiciado por estupro e tortura e, segundo a Polícia Civil, nega as acusações.
Também na quinta-feira, Thiago teve a exoneração publicada no Diário Oficial do Município de Camaçari. Conforme a publicação, ele era lotado na Secretaria de Serviços Públicos (Sesp). A prefeitura divulgou nota de repúdio a Thiago na quarta (20).
Ele já tinha deixado o cargo desde 1º de fevereiro, dois dias depois da enteada ter denunciado o caso à Polícia Civil, mas a oficialização da exoneração no Diário pela prefeitura só saiu ontem.
Caso
Eva Luana da Silva, de 21 anos, denunciou o padrasto por abusos e torturas na Bahia — Foto: Juliana Cavalcante/TV Bahia
“Foram nove anos sendo abusada praticamente todos os dias. Era algo cotidiano, coisa rotineira. Perdi as contas de quantas vezes fui vítima. Tinha vez que chegava a ser estuprada duas vezes no dia”. O relato é da estudante de Direito Eva Luana da Silva, que usou as redes sociais para relatar que ela e a mãe foram constantemente violentadas e torturadas durante anos pelo padrasto.
A jovem conta que ainda se sente com medo mesmo após prisão de padrasto Thiago Oliveira Alves, na semana passada, após ela ter procurado a Polícia Civil para denunciar o caso. É que as lembranças dos momentos de terror que viveu por mais de oito anos ainda as deixa inquieta.
“Não tenho como dizer o que foi mais terrível, porque tudo foi muito ruim. No entanto, os abusos e os estupros foram mais fortes. As torturas que sofri mexeram muito comigo, com o meu psicológico. Em determinadas ocasiões, passava um dia inteiro sendo torturada”, destacou.
Como resultado dos estupros cometidos pelo padrasto desde que ela tinha 12 anos, a jovem disse que fez vários abortos. “Foram quatro ou cinco vezes”, lembra.
Eva levou o caso a público na quarta (20), após relatar em cinco posts no Instagram toda a violência pela qual foi submetida dentro da própria casa, e que teve início quando ela tinha 12 anos. Ela conta que a mãe era constantemente vítima do companheiro e que, depois, passou a ser alvo dele também.
Artistas como Kéfera e Alice Wegmann compartilharam as postagens da estudante.
A delegada Florisbela Rodrigues, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) de Camaçari, que apura o crime, confirmou que a jovem prestou depoimento no dia 30 de janeiro. A mãe dela também falou com a polícia e confirmou as denúncias da filha.
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No dia 31 de janeiro, após Eva ter feito a denúncia, a Justiça concedeu uma medida protetiva para que Thiago não se aproximasse dela e nem da mãe e da irmã. O homem, então, foi obrigado a sair de casa e alugar uma casa para morar.
Ela conta, no entanto, que, antes de ser preso, ele descumpriu a medida que o obrigava a ficar distante das vítimas por no mínimo, 300 metros. A jovem conta que ele foi até a casa dela e destruiu provas, antes do cumprimento de um mandado de busca e apreensão.
“Ele foi na minha casa. Quando a gente foi com a polícia lá, para pegar as provas, meu guarda-roupa estava todo revirado. Ele conseguiu desfazer todas as provas. Conseguiu quebrar a bateria do celular dele inteira. Quebrou o celular dele no meio. Quebrou meu guarda-roupa procurando papéis dele, documentos. As malas dele, bolsas dele”, disse a jovem.
Eva diz que a mãe também ainda está muito abalada. “Ela está comigo sob proteção da Justiça e, assim como eu e todo mundo, quer que ele pague pelo que fez. Queremos justiça. Nunca vou esquecer as cenas que eu vi e as dores que eu senti”, destacou.
Eva, que já tinha prestado uma queixa contra o padrasto quando tinha 13 anos e que foi obrigada a retirar por conta de ameaças do suspeito, diz que ainda confia na Justiça. “Acredito totalmente e creio que ele pagará por tudo. Também tenho orgulho das pessoas que estão comigo, me ajudando”, diz.
A advogada de Eva, Maria Cristina Carneiro, que já foi sua professora, diz que a defesa está fazendo recolhimento da provas e ouvindo testemunhas para reforçar as denúncias de Eva. “Ele ficou acompanhando o inquérito e teve notícia de que haveria uma busca e apreensão na casa onde morava com a família. Foi lá antes e destruiu provas, quebrou celular, chip. Inclusive, ele trocou o segredo da fechadura”, destacou.