BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) — Com dificuldades de trazer insumos para a fabricação de vacinas contra a Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) negou problemas diplomáticos com a China, disse que o país asiático também tem interesses no Brasil e que não existe amor em relações internacionais.
“O pessoal fala ‘ah, o Brasil precisa da China’. A China também precisa da gente. Ou tu acha que a China está comprando soja para jogar fora?”, indagou Bolsonaro em sua live semanal, na noite desta quinta-feira (21).
As declarações foram dadas ao lado do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que negou haver qualquer crise com a China.
“Tem gente que quer ver uma crise, quer criar invenções onde não existe”, disse o chanceler, que admitiu que não é ele o interlocutor do Brasil com o país asiático.
“Nosso embaixador em Pequim, na verdade, tem conversado porque é lá que precisa operar para conseguir os insumos da vacina dentro da burocracia chinesa, que é uma coisa normal”, disse Araújo.
“Aqui foi o Pazuello”, emendou Bolsonaro, referindo-se ao ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello.
A relação de Ernesto Araújo está desgastada com a embaixada da China em Brasília devido aos posicionamentos adotados pelo chanceler. A retórica anti-China, porém, vai além do ministro, já que foi adotada pelo filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e pelo próprio mandatário.
Mesmo assim, Jair Bolsonaro negou crise diplomática com a China e afirmou que a dificuldade em trazer o insumo para a produção da Coronavac no Instituto Butantan, em São Paulo, se deve à burocracia.
Ele também afirmou não haver problemas com a Índia, de onde o Brasil vinha tentando trazer 2 milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca há uma semana. O governo indiano liberou a carga somente nesta quinta-feira.
“Um excelente relacionamento. E nada mudou. Nada mudou. O [William] Bonner vem mentir no Jornal Nacional com aquela cara de pastel dele, aquela cara de último a saber das coisas, dizendo que eu minei esse relacionamento”, disse Bolsonaro sobre a Índia.
“A questão da China é a mesma coisa. Vamos pegar em números? Os números não mentem. Os números da nossa balança comercial com a China, o que nós vendemos, em especial o agronegócio, de 2019 foram maior que os de 2018. 2020 foi maior que 2019. Não tem nenhum estremecimento com a Índia”, afirmou Bolsonaro que, neste momento referia-se à China, não à Índia.
“Não tem problema nenhum”, disse o mandatário. “O problema, como o próprio embaixador disse, é burocrático. Não é nada de político, como alguns falaram, como Bonner falou que nós minamos o relacionamento. Parem de mentir, pessoal. Tomem vergonha na cara. Vocês atrapalham o Brasil com este tipo de notícia. Atrapalham o Brasil. Eu tenho vergonha de vocês, fazer um jornalismo desta maneira”, afirmou Bolsonaro.
A possibilidade de demissão de Araújo foi abordada a partir de uma pergunta de que o governo chinês supostamente estaria pedindo a cabeça do chanceler brasileiro.
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