Com a paralisação dos petroleiros marcada para depois de amanhã, outras categorias também vão cruzar os braços e jogar com a fragilidade do governo?
Segunda e terça da semana passada, enquanto os caminhoneiros faziam a paralisação crescer, Temer e seus ministros se limitaram a agir como os macaquinhos da charge: um tapou os olhos, outro cobriu a boca e outro enfiou os dedos nos ouvidos, todos fingindo que nada estava acontecendo porque a prioridade da semana era lançar Henrique Meirelles como candidato do governo à disputa presidencial.
Na quarta e na quinta, quando até o Planalto conseguiu perceber que a lona do circo estava em chamas, os macaquinhos se transformaram em vira-latas que balançam os rabinhos, rolam de um lado para o outro e depois correm a lamber os primeiros pés que aparecem pela frente. Tamanha docilidade pressupunha a certeza de que a greve se encerraria no dia seguinte.
Sexta-feira chegou e nada da desmobilização dos caminhoneiros. Foi quando o espetáculo atingiu um clímax de nonsense e vergonha alheia: depois de vestir uma fantasia furreca de leão selvagem, Temer resolveu estufar o peito e rugir para o horizonte. Já que uma “minoria radical”, segundo ele, não havia cumprido o acordo, a presidência se viu obrigada a ativar as forças de segurança nacional.
(Parênteses necessários: existe alguma possibilidade de Michel Temer lidar com qualquer problema que seja sem recorrer aos militares? Alguém deveria dizer ao presidente que soldado não é faxineira. Depois de uma semanada de indiferença, subserviência e desespero, é sacanagem chegar para os generais e dizer: “deem vocês um jeito nessa bagunça que eu não consegui limpar!”).
Seja como for, veio o fim de semana e as ações militares se restringiram ao mínimo possível. Desobediência branca? A hipótese faz sentido. Até porque o exército não é obrigado a sujar sua imagem para corrigir a inépcia de um governo fraco. Em geral não houve bloqueio de estradas, apenas a paralisação da categoria, e a narrativa do “locaute” vendida pelo ministro Raul Jungmann não colou como se esperava.
Até agora, graças aos céus, fomos poupados de ver soldados atacando compatriotas que se manifestam de forma pacífica por uma causa justa. Ainda mais a mando de um grupo político marcado pela corrupção. Alguém precisa recuperar o bom senso no Brasil, e é muito bom que isso comece pelos militares. O problema do abastecimento é gravíssimo, mas ainda não houve clima para a população torcer pelo governo.
Tanto isso é verdade que, ontem à noite, sem o apoio popular que desejavam, o leão, os vira-latas e os macaquinhos atuaram como uma ninhada de camundongos que temem ser pisoteados pelas tamancas da realidade. Sem outra alternativa, mas ao custo de bilhões aos cofres públicos, Temer reduziu artificialmente o preço do diesel em 0,46 centavos por litro.
O presidente deu para um lado, mas tirou de outro, o que nos leva à pergunta que será respondida hoje, segunda-feira, na prática o oitavo dia da greve: com a paralisação dos petroleiros marcada para depois de amanhã, outras categorias também vão cruzar os braços e jogar com a fragilidade do governo? Vão crescer os protestos de teor mais político — pedidos de renúncia, por exemplo?
Temer nunca compreendeu a natureza natimorta do seu governo. Fracassou nas reformas e na recuperação econômica, fracassou em manter a ordem e fracassou na simples tarefa de respirar em silêncio enquanto o tempo passa até as próximas eleições. Antes de perder tempo lançando candidatos, o presidente deveria abrir a janela e olhar um pouco para a rua.
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