Assim que a decisão foi tomada, o advogado de Temer, Eduardo Carnelós, divulgou a seguinte nota:
“Essa decisão traz o reconhecimento de que o grande escândalo com o qual se tentou derrubar um presidente da República baseou-se na distorção de conversa gravada, pois o conteúdo verdadeiro dela nunca indicou a prática de nenhuma ilegalidade por parte dele. E foi a partir dessa distorção que outras foram praticadas, para formular descabidas acusações contra um homem honrado.”
Cabe recurso da decisão ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), com sede em Brasília, e o Ministério Público avaliará se recorre.
Temer foi denunciado em 2017 pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em razão de uma conversa gravada pelo empresário Joesley Batista, do grupo J&F.
Segundo Janot, a fala de Temer “tem que manter isso, viu?” era uma tentativa de silenciar o operador Lúcio Funaro e o ex-deputado Eduardo Cunha, presos na Lava Jato. O ex-presidente sempre negou a acusação.
Quando Temer deixou de ser presidente, em janeiro deste ano, o processo parou de tramitar no Supremo Tribunal Federal (STF) e passou a correr na primeira instância da Justiça. Isso porque Temer perdeu o direito ao chamado foro privilegiado.
Antes disso, contudo, ainda em outubro de 2017, coube à Câmara dos Deputados decidir se o Supremo Tribunal Federal poderia ou não analisar a denúncia. A maioria dos parlamentares, então, rejeitou o prosseguimento do caso, paralisando o processo até Temer deixar a Presidência.
De acordo com o juiz de Brasília, o diálogo não indicou o cometimento de crime por parte de Michel Temer.
“A prova sobre a qual se fia a acusação é frágil e não suporta sequer o peso da justa causa para a inauguração da instrução criminal. […] O diálogo quase monossilábico entre ambos evidencia, quando muito, bravata do então presidente da República, Michel Temer, muito distante da conduta dolosa de impedir ou embaraçar concretamente investigação de infração penal que envolva organização criminosa”, escreveu o magistrado na decisão.
Além disso, o juiz indicou possível adulteração da conversa por parte do Ministério Público Federal. “A denúncia transcreve o mesmo trecho do áudio sem considerar interrupções e ruídos, consignando termos diversos na conversa, dando interpretação própria à fala dos interlocutores.”
O juiz ainda completou: “No trecho subsequente das transcrições — principal argumento da acusação quanto ao crime de obstrução da justiça — a denúncia, uma vez mais, desconsidera as interrupções do áudio, suprime o que o Laudo registra como falas ininteligíveis e junta trechos de fala registrados separadamente pela perícia técnica que, a seu sentir, dão — ou dariam — sentido completo à conversa tida por criminosa”.
Na decisão, o juiz absolve sumariamente Temer por não considerar que houve crime e arquiva o caso.
Michel Temer entra no carro para deixar batalhão onde ficou preso em São Paulo — Foto: GloboNews/Reprodução
Em março deste ano, Temer foi preso pela Polícia Federal. Mas essa prisão não tinha relação com o caso Joesley Batista. Na ocasião, a prisão teve como base a delação de José Antunes Sobrinho, dono da Engevix.
O empresário disse que pagou R$ 1 milhão em propina, a pedido do coronel João Baptista Lima Filho (amigo de Temer), do ex-ministro Moreira Franco e com o conhecimento do presidente Michel Temer. A Engevix fechou um contrato em um projeto da usina de Angra 3. Quatro dias depois, a Justiça mandou soltar Temer.
Em maio, contudo, o ex-presidente voltou a ser preso, mas também foi solto dias depois.
Imagens mostram Rodrigo Rocha Loures carregando uma mala com R$ 500 mil entregue por executivo da J&F — Foto: Reprodução
À época da denúncia oferecida contra Temer, em 2017, houve a chamada operação controlada por parte da Polícia Federal na qual o ex-assessor especial de Temer e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures foi flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil de um executivo da J&F.
Rocha Loures chegou a ser preso, mas depois foi solto. Ele devolveu o dinheiro à PF.
Temer ainda é réu em cinco ações penais e investigado em outros inquéritos. Saiba abaixo:
Justiça Federal em Brasília
- Réu em ação penal por corrupção passiva no caso do ex-assessor flagrado com uma mala de dinheiro que teria sido recebida da JBS;
- Réu em inquérito no qual foi acusado pela PGR pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por integrar um suposto esquema para favorecer empresas específicas na edição de um decreto sobre o setor portuário. É o chamado “inquérito dos portos”. Neste caso, o Ministério Público ratificou a denúncia.
Justiça Federal de São Paulo
- Réu por suspeita de lavagem de dinheiro supostamente cometido pela filha Maristela em reforma de imóvel;
- Investigado por suspeita de contratação da Argeplan/Concremat pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, com indícios de serviços não prestados e superfaturamento em contrato avaliado em cerca de R$ 100 milhões de reais. MP diz que, como Temer era real proprietário da Argeplan, teria usado o cargo;
- Investigado por suspeitas narradas pelo delator Flávio Calazans e pela auditoria interna da empresa Pérola S/A sobre suposto contrato fictício de prestação de serviço no valor de R$ 375 mil no porto de Santos;
- Investigado por suspeitas de contrato irregular entre a Argeplan Arquitetura e Engenharia e a empresa Fibria Celulose S/A, com valores em torno de R$ 15,5 milhões, além de relações entre a Construbase Engenharia LTDA e a PDA Projeto e Direção Arquitetônica – foram 58 transações, entre 09/09/2010 a 20/08/2015, envolvendo R$ 17.743.218,01.
Justiça Eleitoral de São Paulo
- Investigado em inquérito apura o suposto pagamento de vantagens indevidas pela Odebrecht a políticos do MDB. A investigação se refere a um jantar no Palácio do Jaburu (residência oficial da Vice-presidência), em maio de 2014, quando Temer era vice-presidente. De acordo com delatores, no jantar, foi acertado o repasse ilícito de R$ 10 milhões da Odebrecht ao partido.
Justiça Federal do Rio de Janeiro
- Réu, é acusado junto com o amigo João Baptista Lima Filho, o Coronel Lima, e mais 10, pelos crimes de corrupção ativa e passiva, peculato e lavagem de dinheiro. Segundo a denúncia, foram desviados pelo menos R$ 18 milhões das obras da usina nuclear de Angra 3;
- Réu acusado de receber R$ 1,1 milhão em propina. Responde neste caso com mais sete pessoas por ter supostamente recebido vantagens em troca de atos de ofício.
G1