sábado, novembro 23, 2024
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Cientistas criam soro universal eficaz contra picadas de várias cobras

Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 29 mil pessoas são picadas todos os anos por cobras no Brasil. O dado mais recente disponível, de 2021, dá conta de 31.354 acidentes deste tipo por ano no país.
As picadas de animais peçonhentos são um problema de saúde em todo o mundo, especialmente em países tropicais como o nosso. Um dos maiores desafios é que é preciso usar soros específicos para cada espécie: uma picada de jararaca, por exemplo, não pode ser tratada com soro de cobra coral e vice-versa. Esta realidade, porém, pode ser modificada em um futuro próximo.
Um estudo publicado na revista Science em 21/2 indica que há chance de um soro mais geral ou até mesmo universal contra picadas de cobras estar disponível nos próximos anos.

A pesquisa feita por biólogos e imunologistas da Índia e dos Estados Unidos testou um soro que é capaz de neutralizar as neurotoxinas de vários gêneros da família das Elapidae, a subordem com mais serpentes venenosas, incluindo a naja, a mamba-negra e a cobra-coral.

Soro sintético

No geral, os soros são produzidos com injeções de pequenas doses de veneno em cavalos e outros animais de grande porte. Os anticorpos criados para combater o material tóxico são coletados posteriormente.

Os pesquisadores criaram o soro sintético a partir de anticorpos presentes em 50 mil soros contra picadas de serpentes, identificando o que havia em comum entre as substâncias coletadas.

O soro universal foi criado para bloquear a possibilidade das toxinas se conectarem aos receptores nicotínicos de acetilcolina, neurotransmissores responsáveis pelas contrações musculares. Quando são atingidos pelos venenos, eles morrem, causando paralisia muscular.

Getty ImagesFoto mostra coral verdadeira venezuela - Metrópoles
Cobra-coral verdadeira é uma das maiores responsáveis por envenenamentos na América do Sul

O soro universal desenvolvido pelos pesquisadores foi eficiente in vitro e também em testes com camundongos. Os animais receberam doses de veneno de várias serpentes que seriam letais ao organismo, mas sobreviveram com o uso do remédio.

Em artigo publicado no site de divulgação científica The Conversation, os imunologistas especialistas em soros Stuart Ainsworth e Camille Abada, ambos da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, comemoraram os avanços.

“Os resultados são particularmente animadores, pois mostram que é viável gerar anticorpos produzidos em laboratório que possam neutralizar amplamente os efeitos dos venenos de muitas espécies, tornando o desenvolvimento de um antiveneno universal uma perspectiva realista”, defenderam.

Quando a solução estará disponível?

O soro, entretanto, não é a bala de prata que salvará a todos dos envenenamentos. Embora as neurotoxinas sejam algumas das mais perigosas formas de envenenamento por serpente, também existem cobras que possuem hemotoxinas, que levam a hemorragias, ou citotoxinas, que matam células da pele e dos músculos. Para estes tipos de venenos, o soro ainda não se mostrou eficaz.

“Para garantir que qualquer novo antiveneno produzido em laboratório seja eficaz e seguro em testes em humanos, sabemos que ainda levará muitos anos. Um antiveneno universal disponível para as vítimas deve demorar”, concluem Ainsworth e Abada.

Metrópoles

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