Uma equipe da Universidade Federal de São Paulo pesquisa um medicamento feito a partir de uma planta africana, que está ajudando dependentes químicos a largar o vício. Os primeiros pacientes foram tratados em uma clínica em Ourinhos (SP).
Da casca da raiz da planta “tabernanthe iboga” é retirada a “ibogaina”. Dela é feito o medicamento que é colocado em cápsulas. O medicamento é produzido no Canadá e a importação só é autorizada pela Anvisa em quantidade específica para o tratamento do paciente. O procedimento começou há seis meses na clínica e já atendeu dez pacientes. Eles ficam em quartos individuais até receberem a dose do medicamento que começa a agir no organismo e 24 depois eles são liberados.
Bruno Rasmussen Chaves é um dos médicos que há dez anos trabalha na pesquisa com usuários de crack e cocaína. Durante dez horas o paciente tem uma alteração da percepção, uma sensação de reviver a própria vida. “Ele começa a ter o que nós chamamos de uma expansão de consciência. Ele começa a entender qual o espaço dele no mundo, porque os relacionamentos dele não estão dando certo, quais são os erros, os acertos que ele está tendo. Então o que ele tem que mudar, o que ele tem que insistir, investir.”
O médico explica que nem todos pacientes podem tomar o medicamento. Ele só pode ser oferecido para quem tenha sérios problemas com drogas, com muitos casos de internação, por exemplo. O psiquiatra que coordenou a pesquisa na Unifesp, Dartiu Xavier da Silveira, ficou animado com os resultados. De 75 pacientes, 61% abandonaram a dependência de álcool, crack e cocaína. “Os tratamentos habituais em geral tratam, curam de 30% a 35% dos dependentes.”
Mas ele lembra que é preciso vontade para se livrar do vício. “O problema de dependência química é uma falta de controle do impulso. Então, a hora que você modifica essas regiões do cérebro através da ibogaina, você de uma certa forma é como se formatasse seu disco rígido da sua cabeça. Ou seja, não existe mágica, tratar dependência é algo complexo, que não se resolve em um instalar de dedos”, completa.
G1