Dia 08 de abril
O ritual da páscoa judaica segue as determinações dadas pelo próprio Deus ao Sacerdote Aarão conforme Êxodo 12, 1-8.11-14 e o fato histórico, com esse caráter religioso, tornou-se para o Povo de Deus um memorial da noite em que Deus os libertou da escravidão do Egito, através de Moisés, deixando para atrás o império do Faraó. A libertação do Povo da escravidão do Egito é o acontecimento mais importante na tradição religiosa de Israel, que o tornou um memorial celebrado no ritual judaico, preceito estabelecido pelo próprio Deus, muito rico em sua simbologia isto é, em sua representação. Trata-se de uma refeição feita em pé, com os rins cingidos, sandálias nos pés e o cajado na mão, como quem está de partida “comereis às pressas, pois é Páscoa do Senhor”. O sangue do Cordeiro imolado irá marcar o batente das portas dos que iriam ser salvos do anjo exterminador, e as ervas amargas lembram a escravidão e o sofrimento que o povo passou.
Jesus de Nazaré, filho de Maria e de José, tendo passado pelo rito inicial do Judaísmo, freqüentava o templo e a sinagoga, como qualquer judeu fervoroso. Não era sua intenção fundar uma nova religião, mas sim resgatar a essência na relação dos homens para com Deus, que o judaísmo havia perdido por causa do rigorismo do seu preceito e dos seus ritos purificatórios. O fenômeno do messianismo era muito comum naquele tempo, como hoje quando surgem a cada dia novos pregadores em cada esquina, mas somente Jesus é o verdadeiro e único Messias, aquele que fora anunciado pelos profetas, o Ungido de Deus, descendente da estirpe de Davi, “o grande rei” porém, na medida em que Jesus vai manifestando quem ele é, e o seu modo de viver, convivendo com os pecadores impuros, curando em dia de Sábado e fazendo um ensinamento novo que estabelecia novas relações com Deus e com o próximo.
Tudo isso foi gerando um descontentamento nas lideranças religiosas, que de repente começaram a vê-lo como uma séria ameaça a estrutura religiosa existente, e a expulsão dos vendedores e cambistas do templo foi a gota d’água, que faltava para sua condenação, sendo dois os motivos que o levaram à morte: O primeiro de caráter religioso, pois ele se dizia Filho de Deus e isso constituía-se uma blasfêmia diante do judaísmo. O segundo de caráter político, Jesus veio para ser rei dos Judeus, representando uma ameaça ao augusto Cezar Soberano do império Romano.
O Povo esperava um messias, libertador-político, para restaurar a realeza em Israel, que se encontrava sob a dominação dos romanos. É essa a moldura histórica dos fatos, que marcaram a vida de Jesus, nos seus três anos de vida pública, desde que deixara a casa de seus pais em Nazaré e dera início as suas pregações,tendo formado o grupo dos discípulos. Logo após sua morte e ressurreição, nas primeiras comunidades apostólicas, dirigidas pelos apóstolos, se perguntava por que Jesus havia morrido?
Nas reuniões, que ocorriam aos domingos, isto é o Dia do Senhor, porque Jesus havia ressuscitado na madrugada de um outro dia, que os cristãos chamaram o dia do Senhor, os apóstolos faziam a Fração do Pão que é o mesmo que dizer a celebração da Eucaristia, recordando tudo o que Jesus fez e ensinou, concentrando suas pregações na Morte e Ressurreição. E assim começou-se a se fazer as primeiras anotações sobre Jesus e mais tarde, entre os anos 60 e 70, surgiram os primeiros evangelhos, que revelavam, não só porque Jesus havia morrido, mas também como e onde havia nascido e de como vivera a sua vida fazendo o bem, anunciando um reino novo sempre na fidelidade e obediência ao Pai e no amor aos seus irmãos. Digo os primeiros evangelhos, porque o evangelho segundo João, surgiu bem mais tarde.
A Ressurreição de Jesus é um fato apenas compreensível e aceitável só à luz da Fé, que é um dom de Deus concedido aos homens, pois o momento da ressurreição não foi presenciado por ninguém e o que as mulheres viram, segundo o relato dos evangelhos sinópticos, foram os “sinais” da ressurreição: túmulo vazio, os panos dobrados e colocados de lado, e ainda um personagem que dialoga com Madalena, confundido por ela com um jardineiro, que anuncia que Jesus de Nazaré não estava mais entre os mortos porque havia ressuscitado. As mulheres tornaram-se desta forma as primeiras anunciadoras da Ressurreição de Jesus aos apóstolos.
Outra evidência foram as aparições de Jesus Ressuscitado aos seus discípulos, reunidos em comunidade conforme relato do livro dos próprios evangelhos. Não se tratam de aparições sensacionalistas para causar impacto e evidenciar a vitória de Jesus sobre os que conspiraram a sua morte, mas sim de um Deus vivo e solidário com os que nele creem, para encorajar a comunidade dos apóstolos, que tiveram a princípio muita dificuldade para vencer o medo e descrença, que se abateu sobre eles com a morte de Jesus.
A Ressurreição de Cristo está no centro da Fé cristã, que é a garantia de nossa ressurreição, que não pode e nem deve ser compreendida como uma simples volta a esta vida, porque se trata de uma realidade sobrenatural entendida e aceita pela Fé, e não de um fato científico. O Cristo Ressuscitado apresenta um corpo glorioso! É este o destino feliz dos que creem e vivem essa esperança que brota da Fé, pois a Vida venceu a morte!
Celebrar a Páscoa é celebrar esta Vida Nova de toda a humanidade, que irrompeu da escuridão do túmulo com o homem Jesus de Nazaré. É a passagem do pecado para a graça de Deus, das trevas para a luz, da Morte para a Vida, porque o Espírito Paráclito que Cristo deu à sua igreja no dia de Pentecostes, tudo renova e permite que, caminhando na Fé, já desfrutemos, ainda que de maneira imperfeita, dessa comunhão íntima com Deus, no Cristo glorioso, que nos acompanha nessa jornada terrestre, e que nos acolherá um dia na plenitude da Vida Eterna.
Uma feliz Páscoa portanto a todos!
Pe José D. de Macedo