“Eu trabalhava… (pausa). Fui professora de adultos. (pausa, de novo). Foi quando eu ainda estudava (mais uma parada). Trabalhei como comerciante…”. Marluce Jansen Figueiredo, 88 anos, descreve flashs de uma vida inteira, dando sinais de uma doença que atinge 20% da população, a partir dos 80 anos. Manoel Dias Correia, 84, também enfrenta diariamente as limitações de quem tem o mal de Alzheimer. Frases interrompidas, desorientação, agressividade… Sofre o doente e quem cuida dele também.
Segundo o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM/SES), o número de mortes por Alzheimer, na Paraíba, subiu 2.208% em 14 anos, saindo de 12 para 277, entre 1999 e 2013. Para especialistas, este não é um dado totalmente negativo, pois significa que o diagnóstico aumentou e, paradoxalmente, que as pessoas estão vivendo mais. Quanto mais velho, mais sujeito à doença. Segundo um dos maiores levantamentos já realizados sobre a doença, feito pela Alzheimer’s Disease International (ADI), a expectativa é que em 2050, o mal atinja 22% da população idosa mundial. E o que se pode fazer? Se preparar para uma velhice mais saudável e começar já a luta para retardar a morte do cérebro. O mês de setembro é dedicado à conscientização
O mal foi descoberto em 1906, pelo médico alemão Alois Alzheimer, e, até hoje, não tem cura. “Até há pouco tempo, a maioria dos estudos se concentravam em genes ou em proteínas com funções relacionadas aos sintomas ou à patologia da doença. Nos últimos cinco anos, estudos do genoma identificaram 20 variantes associadas ao risco do desenvolvimento da doença de Alzheimer. No entanto, ainda não se sabe exatamente qual é a função dessas variantes”, esclarece a médica Minerva Carrasquillo, integrante de um grupo de pesquisa sobre a doença da Clínica Mayo, de Jacksonville (EUA). Sem a cura, o tratamento à base de medicação e o acompanhamento de uma equipe médica multidisciplinar, com neurologista, fisioterapeuta, nutricionista e fonoaudiólogo podem dar mais conforto e diminuir as consequências.
Segundo o neurologista Ronaldo Queiroz, a estimativa é de que 5% da população mundial a partir de 65 anos tem Alzheimer. Na faixa dos 80 anos, este percentual já sobe para os 20%. A única forma de combater a doença, evitando o aparecimento dela mais cedo, é se mantendo ativo e com hábitos saudáveis, de acordo com o especialista. “O que se pode fazer é o mesmo para prevenir doenças cardiovasculares, como evitar o fumo, sedentarismo, ter hábitos para uma vida saudável”, explicou. Ele afirma que o quadro de demência é comum a partir dos 60 anos de idade. “Todo mundo com mais de 60 anos tem um déficit cognitivo leve, isso afeta a memória, a atenção, tudo diminui. Só exames clínicos que testam a memória atestam uma provável demência”, esclareceu Ronaldo.
A genética e os fatores ambientais também podem desencadear a doença, de acordo com a médica Minerva Carrasquillo. “Estudos epidemiológicos que compararam a relação da Alzheimer entre gêmeos idênticos (univitelinos) e gêmeos fraternos (bivitelinos) estimaram que o componente genético dessa doença oscila entre 58% e 79%. Portanto, não há dúvida de que os genes exercem um papel muito importante no desenvolvimento da neurodegeneração. Porém, esses estudos também demonstraram que os fatores ambientais contribuem em uma percentagem significativa para o desenvolvimento da doença. Por isso, devem ser estudados, a fim de se determinar se podem ser modificados a ponto de diminuir, significativamente, os efeitos dos riscos genéticos”, afirmou a especialista.
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