Paulo e Isadora saíram de Córrego do Feijão após o rompimento de barragem da Vale, mas terminaram desajolados em Betim, depois que o prédio vizinho à casa deles tombou.
Depois de ver o lugar onde nasceu e cresceu destruído pela lama, Paulo Rezende, de 26 anos, saiu de Brumadinho em busca de tranquilidade — em janeiro de 2019, uma barragem da Vale se rompeu deixando mortos, feridos e desabrigados.
Ele, então, mudou-se com a esposa para Betim, na Grande Belo Horizonte, para viver em segurança. Mas, na madrugada desta quarta-feira (18), precisou sair de casa novamente.
Paulo é supervisor de qualidade e mora com a esposa, Isadora Marques, de 25 anos, em uma casa em frente ao prédio em construção que tombou, no bairro Ponte Alta. A casa dele, assim como de outras 14 famílias, precisou ser isolada depois do tombamento do prédio vizinho.
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Prédio ainda vazio tombou em Betim. Casa de Paulo, que também foi isolada, fica bem em frente ao prédio. — Foto: Marcelo Lages / TV Globo
À reportagem, ele contou o que viveu momentos antes do incidente.
“A luz acabou, ontem, por volta das 21h. A calha da minha casa caiu e a água começou a entrar na sala. Foi uma chuva muito forte. Tiramos o carro da garagem para ajudar a escoar a água. Voltei para dentro de casa. Pouco tempo depois, comecei a ouvir uma gritaria na rua. Fiquei assustado”, relatou.
Paulo disse ter ouvido muitos gritos e pedidos de socorro. Vizinhos dele começaram a bater no portão, alertando para que ele tirasse o carro da rua.
“Eu nem sabia que morava tanta gente ali. Quando eu saí de casa vi muitas pessoas do lado de fora. E na minha rua tem outros dois prédios feitos pela mesma construtora. Ficou todo mundo assustado, com medo”.
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Prédio em construção tomba em Betim e afeta casas ao redor — Foto: GloboNews/Reprodução
Falta de informação
O supervisor de qualidade reviveu momentos de ansiedade, após a tragédia de Brumadinho. Apesar de não ter sido atingido pela lama, conviveu com o drama de amigos e parentes desabrigados por causa do desastre. Agora, ele vive na pele a sensação de deixar, às pressas, a própria casa.
“A gente teve que sair correndo. Voltamos, minha esposa e eu, para a casa de parentes em Brumadinho. Chegamos às 4h e mal consegui dormir. Deixei minhas coisas, meus documentos… Só peguei meu carro e vim”, descreveu.
O casal reclama da falta de apoio da Defesa Civil de Betim. O órgão foi acionado, mas o rapaz teve a impressão de que os servidores jamais passaram por situação parecida.
“Não teve apoio. Eles estavam totalmente desorientados. Acho que nunca passaram por uma situação dessas. Não sabemos se podemos voltar e pegar nossas coisas, não sabemos se vamos ter para onde ir. Não tivemos nenhuma informação”, reclamou.
O G1 questionou a Prefeitura de Betim sobre a regularidade da obra e o suporte que será dado aos desalojados. A reportagem aguarda retorno.
G1