quinta-feira, maio 2, 2024
spot_img
HomeGeralDo tchan ao tchu tchá tchá

Do tchan ao tchu tchá tchá

Por que os refrões com onomatopeias fazem tanto sucesso

Na música, assim como na vida, tudo é uma questão de perspectiva. Quando Michel Teló dominou as paradas com “Ai, se eu te pego”, exércitos de puristas do cancioneiro nacional se mobilizaram para criticar o intérprete (e os inúmeros autores) da canção pela pobreza da letra. Nas redes sociais, milhares de usuários espalharam charges que faziam comparações entre a década de 1960 e os dias de hoje: enquanto uma jovem formosa daquele tempo era cortejada com os versos de “Garota de Ipanema”, de Vinícius de Moraes, às beldades de hoje só restava se contentar com um “Ai, se eu te pego”. O tempo mostrou que a perseguição era injusta. Comparado aos sucessos mais recentes do sertanejo universitário, que estouraram na internet e trouxeram de volta a moda dos refrões repetitivos de onomatopeias, Michel Teló passou a ser o poeta laureado de sua geração.

Construções sintáticas complexas, como Sábado, na balada, a galera começou a dançar, viraram raridade entre os novos hits nacionais. Agora, as mulheres bonitas correm o risco de ouvir não o “Ai, se eu te pego”, mas o derivado mais pedestre “Ai, ai! Ai, ai, ai, ai! Assim você mata o papai”, do grupo Sorriso Maroto. Se o rapaz for mais ousado, é capaz de chamá-la direto para o “lê lê lê”, o “tcherere tchê tchê” ou o “tchu tchá tchá” – ruídos bucais que não querem dizer nada, mas que, acompanhados de um movimento de quadris, não deixam dúvidas quanto às intenções de quem os pronuncia. Fugir do sertanejo universitário não ajuda. Nas pistas de dança e até diante da televisão, quem consegue evitar o gênero sucumbe ao onipresente “Oi oi oi”, da dança angolana kuduro, que voltou com tudo na novela Avenida Brasil, da Rede Globo.

Os intérpretes de “Eu quero tchu, eu quero tcha”, João Lucas e Marcelo, são os mais beneficiados pelo fenômeno. A canção encantou o jogador Neymar, que fez com o refrão uma coreografia para comemorar seus gols e participou de um clipe com a dupla. A repetição exaustiva do refrão levou a música ao primeiro lugar na lista de downloads do iTunes no Brasil. “As letras desse tipo em canções de consumo ajudam o público a lembrar da música e cantar junto. É muito mais fácil vender”, afirma a pesquisadora Beatriz Gil, da Universidade de São Paulo (USP). O vocalista João Lucas concorda. “O refrão fácil de lembrar ajuda muito”, diz. “As letras são simples, mas as melodias são bonitas.” Para sua próxima música, que será lançada em junho, ele promete emplacar outro refrão repetitivo. “Não posso dizer qual é, mas todos vão cantar junto.” Assim você mata o papai – de curiosidade.

Comente usando o Facebook

DESTAQUES
spot_img
spot_img

Popular

plugins premium WordPress