quarta-feira, abril 24, 2024
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Segurança de mercado na BA tenta barrar entrada de jovem por usar short curto: ‘Homem não pode usar isso’

Um estudante de psicologia denunciou, nas redes sociais, um caso de preconceito sofrido em um supermercado no bairro de Itapuã, em Salvador.

Ao G1, neste domingo (20), Marcos Pascoal, de 25 anos, disse que dois funcionários tentaram impedir sua entrada no estabelecimento por causa da roupa que vestia. Um dos seguranças afirmou que homem não poderia usar short curto, segundo o jovem.

O caso aconteceu no supermercado Walmart, na noite de sábado (19). Em nota, o Grupo BIG, responsável pela administração do supermercado, disse que o caso é “inadmissível” (leia íntegra abaixo).

O estudante afirma que foi impedido por um funcionário que fazia sinais de negativo quando ele tentava entrar no estabelecimento. Depois, ao questionar sobre o que estava acontecendo, ouviu de outro funcionário que não poderia entrar no local com o short que usava porque ele era feminino.

Relato do estudante

“Eu estava entrando no supermercado com minha amiga, na porta tinha um funcionário com deficiência, que na hora que fui entrar, apontou para o meu short e fez sinal de negativo, de que eu não poderia entrar ali. Eu de primeira não entendi, achei que fosse uma brincadeira de tamanho absurdo, olhei para o lado e estava um segurança, que não me respondeu nada”, contou Marcos Pascoal.

“Eu questionei, ‘oxente’ o short? Eu questionei, mas como a pessoa não falava, ela só se comunicava através de gestos, mas gestos foram suficientes para poder não deixar eu passar. Eu coloquei mais um pé para tentar entrar e ele fez o sinal novamente”.

O rapaz conta que a ação do funcionário chamou a atenção dos outros clientes que estavam no local.

“As pessoas estavam passando no momento, tinham pessoas pagando no caixa, o caixa fica perto da porta, a gente estava sendo encarados, uma situação ruim. Eu abaixei o short de tanta vergonha e ainda assim não estava bom para a pessoa que estava na porta, que era esse funcionário. Aí, ele fazia o sinal de negativo também”, contou.

“Eu abaixei ainda mais e ele fazia o sinal de negativo. Eu entrei mesmo assim, vi várias pessoas com o short curto lá dentro, mulheres inclusive, com o short mais curto que o meu e isso me deixou possesso, indignado, porque eu já fui outras vezes nesse mercado e vejo homens com short curto, mulheres e por que eles não são barrados? O que eu tenho diferente para ser barrado?”, questionou Marcos.

Estudante de psicologia é barrado de entrar em mercado por usar short 'curto' — Foto: Reprodução / Redes Sociais

Estudante de psicologia é barrado de entrar em mercado por usar short ‘curto’ — Foto: Reprodução / Redes Sociais

Abaixar o short para ser liberado

Marcos afirma que precisou abaixar o short por duas vezes para conseguir ser “liberado”. Já dentro do estabelecimento, ele disse que ajeitou o short e foi mais uma vez repreendido com gestos pelo funcionário.

“Aí, novamente o funcionário veio apontando para o meu short, fazendo sinal de negativo, fazendo menções auditivas, mas que não dava para entender. Depois do constrangimento de novo na hora de sair, eu não me dei, perguntei qual era o problema com meu short, o que tinha e por que não poderia entrar?”.

Short feminino

O estudante então perguntou ao segurança o que estava acontecendo e ouviu que não poderia entrar no local com o short que estava porque ele era feminino.

“Ai o segurança, que era a pessoa que falava, veio me justificando: ‘Você tem que entender, você tem que entender’. Eu só fiz perguntas, na verdade. Pedi para ele me explicar e ele repetia a mesma coisa: ‘Você tem que entender’, falando com o tom de voz mais alto”, disse Marcos.

“Ele disse que eu tinha que achar um ponto de consenso. Ele falou que as mulheres são mais femininas, isso não está em vídeo, porque minha amiga não tinha começado a gravar ainda. As mulheres são femininas e por isso podem entrar, eu sou homem, masculino não pode usar isso”, completou.

Após a resposta, Marcos pediu para a amiga que o acompanhava gravar a situação.

“Eu perguntava para ele qual era a justificativa do mercado para não deixar eu entrar e ele respondendo que era porque eu era homem. O argumento dele não era por causa de traje de banho, o argumento dele era porque homem não poderia usar short curto“, contou.

Decepção e questionamentos

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Tentaram me impedir de entrar no supermercado, perguntei o motivo e olha só o show de horrores: Ajudem a divulgar isso! Tenho que ME VESTIR COMO HOMEM porque ofendo crianças. Mas só EU, outras pessoas não. Que nome se dá pra esse tipo de discriminação? Só um adendo: se a opinião de quem está à frente do mercado me acha indigno de entrar ali por causa da minha roupa e que não posso ser visto pelas crianças (sou mau exemplo?), que guarde para si. Quando essa opinião tenta me barrar em um local de acesso público, temos um problema. Explicando toda a situação: Na noite de ontem, ao tentar entrar no Walmart de Itapuã, em Salvador, um funcionário tentou negar a minha entrada porque eu estava com um short curto. Mediante a vergonha da cena, abaixei o short duas vezes perguntando ao funcionário se com aquele tamanho eu poderia entrar. Ele fez sinais gestuais dizendo que não, abaixei mais um pouco, já humilhado naquela situação, e consegui entrar. Na hora da saída, ajeitei meu short e novamente vieram me repreender. Dessa vez, questionei ao segurança do vídeo sobre o porquê de todo esse incômodo comigo e a resposta foi essa que vocês estão vendo. Não gritei, não xinguei e nem agredi ninguém. A única coisa que eu fiz foi fazer perguntas, pedir esclarecimentos. Eu sou um homem gay, negro e pobre. Eu não iria cair na besteira de fazer “barraco” porque a gente sabe qual o lado fraco da corda. E todos nós sabemos que o sistema não dá a mínima para vidas como a minha. Também não posto sem o mosaico nos rostos porque, ao contrário do mural público que a internet parece ser, as pessoas tem o direito de ter sua imagem preservada e eu não quero receber processos por isso. Minha advogada está entrando com uma ação contra o supermercado por todo o vexame que ele me fez passar. É isso, não se calem mas também tentem agir com cuidado nessas situações, se possível. Deixe o outro tropeçar em suas próprias palavras, ele tem que se justificar, não eu. Do mercado, mais preparo e responsabilidade. Dos funcionários, mais humanidade.

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Ao G1, Marcos disse que mora no mesmo bairro onde fica o mercado. Ele afirmou que já esteve no local outras vezes e que já viu mulheres e homens com o mesmo traje.

“Isso é horrível, porque eu não fui no mercado para receber lição de moral e nem para passar por esse constrangimento na porta. Eu fui procurar pelo meu produto e passei por essa situação”, disse o estudante.

“Ele apontava para as crianças como se eu fosse algum tipo de mau exemplo. Por que as crianças não podem me olhar de short curto? Elas podem olhar as mulheres e eu não? Eu sou uma aberração? Que absurdo é esse?”.

Boletim de ocorrência

Marcos Pascoal pretende registrar um boletim de ocorrência nesta segunda-feira (21).

“Se a pessoa que está à frente desse estabelecimento tem uma opinião e essa opinião me julga como não digno de ficar naquele ambiente por causa das minhas roupas, como se eu fosse algo negativo para as crianças, essa opinião precisa ser guardada ou trabalhada em uma terapia”.

“A partir do momento em que essa opinião tenta me barrar, atrapalhar meu acesso em um espaço dito como um local público, interfere no meu direito, aí a gente tem um grande problema”, concluiu.

O que diz o supermercado

Em nota, o Grupo BIG, responsável pela administração do supermercado, informou que o fato ocorrido no supermercado de Itapuã é “inadmissível e não corresponde aos procedimentos e valores da empresa”.

A empresa informou que vai tomar medidas cabíveis, como o afastamento do segurança terceirizado e que está em contato com o cliente, colocando-se à sua disposição para toda assistência necessária nesse momento.

Também em nota, o Grupo BIG reiterou que não aceita situações como essa e reforçou o pedido de desculpas ao cliente.

G1

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