sexta-feira, março 29, 2024
spot_img
HomeGeralShows drive-in têm buzinas no lugar de aplausos, cachês mais baixos e...

Shows drive-in têm buzinas no lugar de aplausos, cachês mais baixos e estranhamento de artistas

Ivo Meirelles, Leo Chaves e Jota Quest comentam formato de shows com carros na plateia. Veja agenda de eventos e quais artistas não aprovam. Médicos explicam riscos.

Em vez de palmas e gritos, o som das buzinas e o piscar dos faróis estão dominando as plateias dos primeiros shows no Brasil após a pandemia da Covid-19.

No mês passado, Ivo Meirelles, Jota Quest e Leo Chaves se apresentaram para plateias cheias… de carros. Belo, Roupa Nova, Nando Reis, Anavitória e Turma do Pagode também têm shows no formato drive-in agendados para as próximas semanas (veja agenda no fim da reportagem).

O projeto com mais shows marcados é o Arena Sessions, com eventos variados e apresentações musicais no Allianz Parque, em São Paulo. A capacidade é de 285 carros, com 130 na área vip. Mesmo com preço de até R$ 550 por carro, os ingressos sempre se esgotam.

Mas antes de o estádio do Palmeiras virar o maior espaço deste “novo” tipo de show, outros artistas já tinham se aventurado em junho. Ivo Meirelles se apresentou no espaço Arena Estaiada, perto da ponte de mesmo nome, em São Paulo, no dia 25.

“Quando você entra no palco, não tem aplauso e nem buzina tem. Tem um estranhamento ali”, diz o cantor ao G1. “Depois da segunda, terceira música, segue normal, com todo mundo já entendendo. Mas subir ao palco foi bem estranho.”

Ivo Meirelles durante show no formato drive-in em São Paulo — Foto: Divulgação/Specio Histórias Em Imagens/Murilo Nascimento

Aos artistas que ainda vão cantar no esquema drive-in, o sambista dá uma dica: “Tem que se concentrar no show. Cada carro tem uma, duas, três pessoas vendo. Então, tem que fazer o show imaginando o semblante das pessoas nos faróis. Tem que estar focado nisso para não se perder.”

Quanto vale o show?

O formato não é mais o mesmo, e o cachê também não. O cantor garante que nestes tempos de crise “todo mundo tem que se flexibilizar em relação a cachê”.

“A flexibilização é geral. Está todo mundo perdendo alguma coisa: os artistas, os músicos, a plateia que vai de carro. O motorista não pode beber. Você não pode ir de Uber ou de táxi, então tem sempre alguém se sacrificando”, diz Ivo Meirelles.

Doreni Caramori, presidente da Associação Brasileira de Promotores de Eventos (ABRAPE), diz que é natural que exista uma adaptação na parte econômica com essa “nova realidade” do drive-in.

“O produtor não vai ter a mesma margem, a pessoa que aluga equipamentos não vai ter a mesma remuneração e os fornecedores como um todo vão ter que se adaptar. Vão ter que criar modelos diferentes, mais do que uma sessão, custos mais enxutos. Alguns não vão topar nessa condição. É mais uma alternativa de negócio”, explica Caramori.

Com menos ingressos disponíveis, a tendência é que seja mais difícil para produtores “fecharem a conta”. Eventos drive-in podem se tornar dependentes de patrocínios para dar conta dos gastos com artistas do primeiro time e com a estrutura.

“Em um formato novo, não só se espera valores diferentes dos praticados, como também, a aposta de novos ‘players’ como marcas”, analisa Guilherme Marconi, diretor da produtora Diverti.

Leo Chaves faz show drive-in em Santa Catarina — Foto: Divulgação

Leo Chaves, que formava dupla com o irmão Victor, cantou para carros e motoristas no dia 20 de junho. Foi no estacionamento da Arena Petry, em São José, cidade a 6 km de Florianópolis. O sertanejo diz ter ficado tenso antes de se apresentar para 250 carros (com até 3 pessoas por veículo).

“Tinha notícia de que muitos artistas não quiseram fazer. Obviamente que se trata de um risco quando se vai fazer um evento desse”, explica Leo ao G1.

“Até porque ninguém conhece os moldes, é uma coisa que vai sendo adaptada. Mas quando nós subimos ao palco e vimos a quantidade de carros, as pessoas colocando os braços para fora, muita gente saindo pelo teto solar, levantando, curtindo, foi meio que um alento pra um artista que está sem contato com o público, sem expressar sua arte no palco.”

Leo sentiu falta do grito da plateia. “É um combustível. No drive-in, você não consegue perceber isso fora os momentos em que você está no intervalo. Aí você consegue ouvir gritos isolados. Não é um grito de multidão. Mas é um formato diferente e a gente sempre quer inovação.”

Jota Quest faz show no evento Arena Sessions, no formato drive-in, em São Paulo — Foto: Divulgação/Pedro Zola

Em sua primeira apresentação após mais de 100 dias longe dos palcos, o Jota Quest tocou para carros no estádio do Palmeiras.

“Muito mais legal do que eu podia imaginar. A gente vive dessa energia. Pela primeira vez na vida eu gostei de um buzinaço”, disse Rogério Flausino, no programa “Encontro com Fátima Bernardes”. “Te lembra trânsito lotado, aquela confusão, estresse, aqui não… foi o contrário, quando foi o primeiro, eu falei: ‘é isso aí, galera, continua’.”

Em qualquer desses shows, estar dentro do carro não anula os cuidados básicos para a prevenção do coronavírus. É preciso usar máscara e higienizar as mãos com álcool gel.

A equipe do estádio usa bastões luminosos, como nos cinemas drive-in, para orientar os carros e indicar onde há vagas. Há pequenas caixas de som ao lado de cada vaga. Para ir ao banheiro, tem que se comunicar com a equipe do evento, por celular. Também é possível usar o telefone para pedir comidas e bebidas.

Também deve ser levada em conta a estrutura para um evento de cerca de mil pessoas. Há outros profissionais envolvidos na produção, da parte de prestação de serviços (segurança, limpeza, produção, vendas) e da estrutura do show (equipe técnica, banda).

Por conta disso, há artistas que não se empolgaram tanto com o formato drive-in. É o caso de Manu Gavassi. Ela era uma das atrações do Arena Sessions, mas desistiu e divulgou um comunicado cancelando o show.

“Esse festival em formato drive-in no Allianz Park foi marcado tempos atrás quando tínhamos a esperança das coisas melhorarem até julho. O que não foi o caso, as coisas só pioraram”, explicou Manu.

“Então mesmo com todas as medidas de segurança não estou confortável de fazer a minha apresentação e estou saindo do festival. Obrigada por serem sempre tão compreensivos e transparentes comigo. Estamos juntos nesse processo de evolução.”

E fora do Brasil?

No Brasil, eventos desse tipo com atrações mais conhecidas começaram em junho. Na Europa, o formato vem sendo testado para apresentações musicais desde maio. Dinamarca, Noruega e Alemanha foram pioneiros nos shows no estilo drive-in.

Nos Estados Unidos, a produtora Live Nation anunciou o projeto Live From the Drive-In, que começa neste mês. O nome mais conhecido no line-up, mais voltado ao country, é o do rapper Nelly. Na versão britânica, a banda Kaiser Chiefs e os rappers The Streets e Dizzee Rascal estão escalados.

O que mais chama atenção no projeto, porém, é a possibilidade de poder ter um espaço para curtir o show ao lado do carro. Seria uma boa opção para o mercado brasileiro quando a pandemia estiver mais controlada.

Ilustração mostra a estrutura do Live From the Drive-In, projeto da produtora Live Nation, que acontece nos Estados Unidos em julho — Foto: Divulgação/Live Nation

Esse novo formato, com os fãs encarando a banda de fora dos carros, seria ideal para nomes importantes do rock pesado que não pretendem “tocar para carros”. “É a coisa mais imbecil que eu já vi na vida”, disse Robb Flynn, do Machine Head, para a revista “Kerrang”.

“Não serve para o metal… Eu só entendo que estejam fazendo isso porque as pessoas estão desesperadas”, ponderou Schmier, do Destruction, ao site Metal Voice.

O que dizem os médicos?

G1 ouviu três médicos epidemiologistas para entender se a reunião de tantas pessoas, mesmo dentro de carros, pode causar a transmissão do vírus.

A resposta não é tão simples e nem consensual. Os especialistas defendem que apenas pessoas que dividam a mesma casa podem estar no mesmo carro. Não é recomendável abrigar amigos, conhecidos ou parentes que não morem na mesma casa.

Para Leonardo Weissmann, médico consultor da Sociedade Brasileira de Epidemiologia, drive-ins não são indicados para os países que têm registrado aumento nos casos do coronavírus. Mas mesmo em países que já tenham passado pelo pico de contágio é recomendado o distanciamento social, defende.

Cantor dinamarquês Mads Langer faz show em drive-in durante pandemia de coronavírus — Foto: Divulgação

É muito difícil que o vírus passe pelo ar de um carro para outro, diz Oliver Nascimento, médico e professor da disciplina de pneumologia da escola paulista de medicina da Universidade Federal de São Paulo. “Mas dentro do carro, a distância mínima não é cumprida. Se uma pessoa estiver fora do carro, vendendo comida ou oferecendo outros serviços, já oferece risco”, explica ele.

André Ribas, epidemiologista da Faculdade São Leopoldo Mandic, diz que não vê problemas neste tipo de evento. “Se os carros mantiverem um espaço pequeno do vidro aberto, para que haja circulação de ar, as eventuais partículas de aerossol não conseguem entrar.”

Onde ver os shows drive-in

Arena Sessions (São Paulo)

  • Allianz Parque – Av. Francisco Matarazzo, 1705 – Água Branca, São Paulo
  • Capacidade: 285 carros
  • Ingressos de R$ 250 a R$ 550 (por carro) pelo site Sympla
  • Turma do Pagode: 3 de julho (sexta)
  • Rastapé e Maneva: 4 de julho (sábado)
  • Patati Patatá: 11 de julho (sábado) e 12 de julho (domingo)
  • Marcelo D2: 11 de julho (sábado)
  • Anavitória: 17 de julho (sexta)
  • Nando Reis: 19 de julho (domingo)

O público deverá seguir regras durante a apresentação:

  • Todas as pessoas devem usar máscaras mesmo dentro do carro;
  • Todos terão a temperatura aferida no acesso e só serão liberadas apenas pessoas com temperatura inferior à 37,5º;
  • Carros ficaram estacionados a uma distância de 2 metros do outro;
  • É obrigatório que todos permaneçam dentro do veículo;
  • Janelas podem ficar abertas, mas o público não pode colocar braços, cabeça ou qualquer outra parte do corpo para fora.

Espaço Hall (Rio)

  • Av Ayrton Senna, 5850, Rio de Janeiro
  • Roupa nova: 10 de julho (sexta-feira), às 21h
  • Belo: 11 de julho (sábado), às 21h
  • Capacidade de veículos: 400 carros
  • Ingressos de R$ 200 a R$ 400 por carro pelo site Ingresso Rápido

Poa Festival (Porto Alegre)

  • Estacionamento da EPTC, ao lado do Estádio Beira-Rio
  • Maurício Manieri: 4 de julho (sábado), às 20h
  • Duca Leindecker: 5 de julho (domingo), às 19h
  • Ingressos: a partir de R$ 100 por carro pelo site Ingresso Rápido    
  • G1

Comente usando o Facebook

DESTAQUES
spot_img
spot_img

Popular

plugins premium WordPress