Especialistas brasileiros esclarecem detalhes sobre os insetos alvo de exageros e boatos; abelhas são a principal presa da espécie.
As notícias sobre vespas-gigantes-asiáticas, vespas-mandarinas ou ainda “vespas assassinas” chegaram ao Brasil como fruto de um enxame: de forma intensa, acelerada e carregando um grande volume de informações. O motivo foi o fato de que os insetos, originários do Japão e presentes em países como a China, Malásia e Rússia, foram encontrados pela primeira vez nos Estados Unidos, no final de 2019, em Washington.
A hipótese é que essas vespas (de quase cinco centímetros de comprimento!) entraram em contêineres e foram “transportadas” para a América do Norte e ali se dispersaram. Mas esse deslocamento também suscitou o debate sobre qual seria o perigo provocado por elas, já que são famosas por uma ferroada com toxina potente. “Havia uma narrativa de vespas assassinas que matavam em poucas horas. Quando você vê isso jogado na imprensa tradicional é uma distorção do que é real e da forma correta de passar as informações”, argumenta o biólogo e divulgador científico Hugo Fernandes Ferreira.
Ao contrário do primeiro alarde, o perigo dessa espécie está muito mais voltado à outra população, que não a humana. As abelhas produtoras de mel são as principais presas dessas vespas que, em dias, matam dezenas de milhares delas. Segundo Fabio Nascimento, professor da USP de Ribeirão Preto e coordenador de estudos sobre o comportamento social de vespas e abelhas, o ferrão das abelhas não consegue romper o exoesqueleto dessas vespas, o que as impede de se defender.
O pesquisador acrescenta, porém, que as abelhas melíferas da Ásia já desenvolveram uma estratégia sofisticada contra as predadoras. “Durante os ataques, grupos de operárias cobrem uma vespa e vibrando sua musculatura das asas, criam um tipo de ‘micro-ondas’ com seus corpos que pode alcançar cerca de 43°C e cozinha a vespa”, define ele. Sem tempo para arquitetar um plano assim, abelhas não adaptadas ao contato com essas vespas se tornam presas extremamente vulneráveis.
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Entidade americana pediu que apicultores e moradores comuniquem imediatamente qualquer encontro com ‘vespas assassinas’ para evitar a propagação delas — Foto: WASHINGTON STATE DEPARTMENT OF AGRICULTURE via BBC
Insetos invasores, que provém de outros territórios, podem se beneficiar de recursos da nova “casa” e se alastrarem por não haver elementos que regulem sua espécie. Nestes casos, o conhecimento e a ajuda da população são armas para o combate, seja disseminando informações verdadeiras ou evitando acidentes graves. “Seja qual for a espécie, estes são animais preocupantes do ponto de vista médico e recomendo que todos procurem saber se são alérgicos ou não”, explica Hugo.
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Conheça alguns detalhes sobre esses insetos conhecidos como vespas-gigantes-asiáticas, vespas-mandarinas ou “vespas assassinas” — Foto: Arte/TG