sábado, abril 20, 2024
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Milícia da Muzema também lucrava com construção de shopping e empreendimentos comerciais, diz MP

Imóveis foram erguidos com o apoio de empresários ligados aos milicianos, segundo investigação. Operação prendeu 13 pessoas nesta terça-feira (16).

O Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente (Gaema) do Ministério Público informou que a milícia da Muzema e do Rio das Pedras, ambas na Zona Oeste do Rio, também lucrava com empreendimentos comerciais. O grupo paramilitar também foi responsável pela construção de lojas, um shopping e salas comerciais.

Os imóveis foram erguidos com o apoio de empresário ligados a milicianos, segundo as investigações. Na internet, ainda é possível encontrar anúncios de imóveis irregulares na Muzema para aluguel e venda mesmo após a tragédia que matou 24 pessoas em abril.

Operação do MP prende 13 suspeitos de financiar e construir imóveis irregulares no Rio

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A investigação mostrou que a organização criminosa atuava havia pelo menos cinco anos dividida em três grupos com tarefas distintas.

  • Núcleo empreendedor: responsável pela apropriação de terrenos, desmatamento e construções.
  • Grupo de investidores: compravam várias unidades para lucrar com os aluguéis.
  • Equipe de corretores: completava a quadrilha, atraindo os clientes.
 Leonardo Igrejas Esteves Borges chega à Cidade da Polícia — Foto: Narayanna Borges/GloboNews

Leonardo Igrejas Esteves Borges chega à Cidade da Polícia — Foto: Narayanna Borges/GloboNews

Agentes da Polícia Civil e do Ministério Público prenderam 13 pessoasnesta terça-feira (16). Entre elas, o empresário Leonardo Igrejas Esteves Borges, de 40 anos. Ele foi preso em casa, num prédio de frente para o mar na Barra da Tijuca, também na Zona Oeste.

Outro empresário, Bruno Cancella, de 38 anos, foi detido na Freguesia, em Jacarepaguá. A mulher de Bruno, Letícia Cancella, é funcionária da prefeitura e também é investigada. Os investigadores apuraram que ela forneceu laudos atestando a segurança dos imóveis para a quadrilha.

“O MP vai atuar de forma propositiva para impactar, coibir e impedir que a cidade cresça de forma desordenada onde poucas pessoas, que é o que se verifica aqui, lucram em detrimento de muitos. A cidade cresce sem qualquer equipamento urbano, sem segurança, pondo em risco as pessoas que moram naquela localidade e são vítimas de todo o tipo de achaque porque aquela área é uma área onde há um domínio territorial de uma organização criminosa”, afirmou o promotor Plínio Vinícius D’ávila Araújo.

Bruno Pupe Cancella, um dos presos em operação contra a milícia, chega à Cidade da Polícia — Foto: Reprodução/GloboNews

Bruno Pupe Cancella, um dos presos em operação contra a milícia, chega à Cidade da Polícia — Foto: Reprodução/GloboNews

Ligações telefônicas

Ligações telefônicas interceptadas com autorização da Justiça mostram os empresários Bruno Cancella e Leonardo Igrejas comemorando o sucesso de um dos empreendimentos ilegais.

  • Leonardo Igrejas: olha só, deixa eu te falar uma coisa, com toda sinceridade. Ali, o “Espaço Itanhangá” foi um ”negoção”. Foi um ”negoção”.
  • Bruno Cancella: Hã… foi um ”negoção”. Lógico que foi.
  • Leonardo Igrejas: O que não foi um ”negoção” foram os apartamentos.
  • Bruno Cancella: Chefe, eu te garanto que daqui a 90 dias, se “tu quiser realizar dinheiro” com bastante lucro, pode realizar. Porque eu vou vender tudo, pô!

Em outra ligação, Antônio de Brito Machado, um encarregado de obras da quadrilha e que também foi denunciado, alerta um pedreiro sobre uma operação na Muzema que aconteceria dias depois.

  • Antônio de Brito Machado: Pô, tinha que entregar logo a p* desses apartamentos, irmão. Vou até ligar pra Carla aqui. Para a Carla ir na segunda-feira para limpar essa p* aí! Está tudo pronto, pô!
  • HNI: É, mas depois vai sujar, quando ele botar as portas no lugar. Suja tudo de novo.
  • Antônio de Brito Machado: Porque eu tenho que entregar (inaudível) daí, irmão, porque aqui na Muzema está para dar aquele mesmo terremoto que deu comigo e com Bruno (Bruno Cancella, empresário), entendeu? Segunda-feira. E essas p* respinga para todo mundo, para todo lado, e eu quero logo entregar esses apartamentos que foram vendidos, entendeu?

A pressa de entregar os apartamentos era para tentar evitar que a obra fosse embargada. Caso os apartamentos estivessem ocupados, seria um empecilho para a prefeitura embargar a obra.

Em outra ligação, um dos sócios do empresário Bruno Cancella comentou uma reportagem do RJ2 exibida em 2018, que mostrou a compra e venda de imóveis ilegais na Muzema.

  • Leandro Rochmann: “Tu viu” a matéria agora da Globo, cara?
  • HNI: Cara, eu não estava vendo jornal, não. Eu estou na rua. O cara me falou agora.
  • Leandro Rochmann: Po, filmaram ali o terreno do Gabriel, que eu que fiz o negócio, né? Estou com dois apartamentos ali. Filmaram o prédio do Raimundinho. Sacanagem essa p*, entendeu?
  • HNI: É enquanto eles não derrubarem uns prédios aí não vão parar não.
  • Leandro Rochmann : Pô, meu irmão, eles estão querendo é que você vá lá na prefeitura e legalize teu prédio e pague imposto.
  • HNI: Mas não tem como. Eles tratam os cara igual cachorro lá.

O que dizem os citados

A defesa de Bruno Cancella disse que irá se informar sobre o processo e não vai se manifestar nesta terça-feira (16). O RJ2 não conseguiu contato com a defesa dos outros citados na reportagem.

A prefeitura do Rio disse que a servidora Letícia Cancella, esposa de um dos presos na operação, não tem acesso ao sistema de cadastro do IPTU e que está à disposição para colaborar com a apuração dos fatos.

G1

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