Lula pode desequilibrar a favor de candidatos governistas e do PT. Já o dividido PSDB lançará nomes em 80% das capitais na tentativa de se credenciar para 2014
O desenho das eleições municipais de 2012 já começou a ser traçado nas mais importantes capitais brasileiras. Mas ainda acumula pendências que dependem do consenso de um desorientado PSDB, sobretudo em São Paulo, e da articulação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, considerado, entre os partidos governistas, o grande maestro político do próximo pleito. Ninguém duvida que será de Lula a última palavra sobre os nomes que serão apoiados pelo PT no Recife e em Belo Horizonte, Porto Alegre e Campinas. “Ainda há divergências e arestas a serem aparadas em diversos municípios. Mas avançamos muito nas grandes cidades”, diz André Vargas, coordenador de comunicação do PT. A atuação política de Lula e sua capacidade de transferência de votos, depois de deixar o comando do País com índices recorde de popularidade, será uma das peculiaridades do pleito de 2012. A eleição de outubro também será a primeira em que candidatos estarão sob as limitações impostas pela Lei da Ficha Limpa e farão campanhas num cenário de ofensivas judiciais que resultaram na cassação de 280 prefeitos eleitos em 2008. “O STF ainda vai julgar uma ação que questiona a validade da Lei da Ficha Limpa. Mas, até o julgamento, ela está valendo e acreditamos que os ministros vão mantê-la em funcionamento”, avalia o juiz eleitoral Marlon Reis, coordenador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral.
Ao retornar às articulações em março, depois de concluído o tratamento contra o câncer de laringe, Lula terá de arbitrar sobre a disputa na capital pernambucana para decidir o candidato petista. O atual prefeito, João da Costa, busca a reeleição, mas enfrenta a resistência do antecessor, João Paulo, que também postula a vaga de candidato pelo PT. No Recife, os desejos petistas correm o risco de ser atropelados pelo governador Eduardo Campos (PSB), que trabalha para deixar a sombra do PT e lançar a candidatura do ministro da Integração, Fernando Bezerra. Uma forma de o próprio Campos ganhar independência e se fortalecer para a disputa presidencial em 2014.
Em São Paulo, o poderio tucano está seriamente ameaçado pelas divergências internas, a ausência de um candidato forte, já que o ex-governador José Serra, o nome natural, resiste em concorrer a prefeito, e pela articulação do governo federal em torno do atual ministro da Educação, Fernando Haddad. Mesmo que não tenha chances de vitória, o PSDB planeja lançar candidatos próprios em 80% das capitais, de olho em 2014. “Queremos lançar candidatos minimamente competitivos onde pudermos e fazer alianças com quem dispute contra o PT”, afirma o senador Aécio Neves (PSDB-MG), nome mais forte do partido para concorrer ao Palácio do Planalto daqui a quatro anos.
No Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB) deve contar com o apoio do PT, inviabilizando as chances dos adversários. Quem ainda sonha com uma aliança com o PT é o atual prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), e a deputada Manuela D’Ávila (PCdoB), apesar de os petistas garantirem que lançarão nome próprio. Outra reeleição dada como certa é a do atual prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB). Antes, no entanto, o socialista precisa resolver uma disputa em torno de partidos que o apoiaram em 2008. Os petistas não aceitam uma coligação com os tucanos e ameaçam lançar candidatura própria. O problema é que render-se aos desejos do PT pode custar a eleição de Lacerda, que perderia parte do eleitorado para um candidato indicado por Aécio. Como se vê, o cenário está riscado, mas ainda há muita estrada pela frente.
IstoÉ