sexta-feira, abril 19, 2024
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Condomínio onde motoboy sofreu ofensas racistas coloca faixa de repúdio contra morador: ‘Não compactuam’

Matheus Pires Barbosa afirmou que homem agiu de modo ‘selvagem’. Caso ficou conhecido no Brasil após vídeo com os xingamentos viralizar na internet.O condomínio de casas Vila Bela Vista, em Valinhos (SP), onde um motoboy sofreu ofensas racistas e foi humilhado por um morador, se manifestou em repúdio a atitude. Após a situação ganhar repercussão em todo o Brasil, a administração do local pendurou uma faixa ao lado da portaria para deixar claro que não compactua com a atitude do seu condômino. O caso aconteceu no dia 31 de julho, mas veio a tona na última sexta-feira (7), quando o vídeo com os xingamentos viralizou na internet.

A faixa foi colocada após a situação gerar revolta e muitas pessoas passarem em frente a portaria gritando contra o morador. A administração solicitou que uma viatura da Polícia Militar fizesse um monitoramento na área. No sábado (8), motoboys da região de Campinas (SP) fizeram uma manifestação pacífica em frente ao local, com um buzinaço. O condomínio fica no bairro Chácaras Silvania.

“O condomínio Vila Bela Vista vem a público repudiar o ato de discriminação ocorrido em sua área comum. Neste ato, informamos que o corpo diretivo e seus moradores não compactuam com a atitude do cidadão em questão”, diz o texto da faixa.

Condomínio colocou faixa de repúdio contra ofensas racistas — Foto: Reprodução/EPTV

Condomínio colocou faixa de repúdio contra ofensas racistas — Foto: Reprodução/EPTV

Em entrevista ao Fantástico, o entregador de aplicativos de serviços de alimentação Matheus Pires Barbosa detalhou a discussão e as ofensas sofridas pelo morador. O profissional afirmou que, em outra oportunidade, o homem já havia sido grosseiro por ele não ter achado o endereço da residência. Desta vez, o problema aconteceu porque Barbosa pediu para ele buscar a encomenda direto na portaria.

“Ele agiu de um modo selvagem. Ele falou que eu tinha obrigação de ir até a casa, aí eu fiz uma brincadeira com ele, disse que agora eu sabia porque ele era meio mal falado entre os motoboys. Aí ele já começou a me ofender, disse que eu não tinha direito de falar isso pra ele, fez uma expressão se fazendo de macaco. Quando ele falou que eu era preto, eu percebi que ele tinha cometido um crime”, afirmou o entregador.

Histórico de confusão e processo

O morador, Mateus Almeida Prado, já se envolveu em outra confusão no mesmo condomínio há dois anos. Um vídeo mostra o momento em que ele destrói o carro de uma vizinha. Ela disse que, depois do episódio, se mudou porque ficou com medo do rapaz.

“Ele vai ser processado criminalmente e vai ser processado civilmente pelo dano que causou ao nosso cliente”, disse o advogado do motoboy, Márcio Santos Abreu. Nesta segunda-feira (10), a Polícia Civil de Valinhos vai ouvir o depoimento do entregador. O caso foi registrado como injúria racial.

Defesa

O pai do agressor alegou que o filho sofre de esquizofrenia. Na delegacia, ele apresentou um atestado médico de tratamento. O homem disse que “Mateus recebeu educação para tratar com respeito o próximo, independente de classe social, credo ou raça. Valores que lhe foram furtados pela esquizofrenia”. A nota da família ainda pede desculpas ao motoboy e todos os trabalhadores que se sentiram atingidos com o episódio.

De acordo com o psiquiatra da USP Paulo Clemente Sallet, o comportamento do morador precisaria de investigação mais detalhada, mas afirmou que, no vídeo, ele não parecia estar em surto psicótico.

“Aparentemente, no fragmento apresentado, esse rapaz não estava em surto psicótico. Ele tinha capacidade mental, cognitiva e de autocontrole, que é demonstrado nas atitudes que ele tem no vídeo. Pela expressão verbal, pelos gestos e pela atitude que se vê no vídeo, eu afirmaria que esse rapaz no momento da agressão não parecia estar numa crise psicótica”, disse Sallet.

Motoboy sofreu ofensas raciais em Valinhos — Foto: Reprodução/EPTV

Motoboy sofreu ofensas raciais em Valinhos — Foto: Reprodução/EPTV

Vaquinha e exclusão de app

Internautas se mobilizaram para criar uma “vaquinha” on-line e ajudar o entregador. Na manhã desta segunda, o valor arrecado já estava em R$ 151.715, ultrapassando a meta de R$ 150 mil. Segundo os organizadores, o objetivo é auxiliar na compra de uma casa e nos investimentos dos estudos futuros. Por conta do episódio, o motoboy ficou conhecido na internet e já está com 2 milhões de seguidores no Instagram.

O aplicativo de entrega de comida IFood se pronunciou sobre o caso e confirmou, em nota, que o usuário será excluído da plataforma de pedidos.

“Baseados nos termos de uso do aplicativo, o IFood descadastrou o usuário agressor da plataforma. A empresa está em contato para oferecer ao entregador apoio jurídico e psicológico”, diz a empresa ao mencionar que censura preconceito ou discriminação.

O caso

Um vídeo mostra o momento em que o homem ofende o profissional e diz que ele tem “inveja disso aqui”, apontando para a própria pele.

Durante a discussão, o rapaz ainda ofendeu o entregador, o chamando de “semianalfabeto”; repete que ele tem inveja da vida que as pessoas que moram no condomínio dele têm; e diz que o profissional não tem onde morar nem “nunca vai ter” nada do que ele estava mencionando. O vídeo foi gravado por um vizinho.

“Eu falei pra ele que ele não podia fazer mais isso porque ninguém gostava desse tipo de atitude. O que ele faz é pra se mostrar superior as pessoas. Teve um momento que ele cuspiu em mim, jogou a nota no chão e disse que eu era lixo. Na frente da polícia, ele continuou com as agressões, me chamou de favelado”, contou Matheus Pires Barbosa.

Caso de racismo com entregador de aplicativo em Valinhos, no interior de São Paulo — Foto: Montagem/G1

Caso de racismo com entregador de aplicativo em Valinhos, no interior de São Paulo — Foto: Montagem/G1

G1

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