Samarn Poonan era mergulhador treinado da Marinha tailandesa e morreu tentando levar oxigênio a meninos presos
A morte de um mergulhador experiente na madrugada de hoje (ontem à noite no horário de Brasília) evidenciou os riscos de resgatar doze meninos e seu técnico de futebol, presos em uma caverna no norte da Tailândia. A morte de hoje somada ao retorno das chuvas e à escassez de oxigênio dentro da caverna tornam o resgate cada vez mais dramático e urgente.
O instrutor explica que a principal causa de morte em mergulho de cavernas – um dos tipos mais complexos de submersão – é o desespero. “O mergulho em qualquer região com teto é perigoso e exige um psicológico controlado. O teto baixo pode causar desespero em algumas pessoas e o desespero leva a uma respiração ofegante e, por consequência, ao alto consumo de ar”. Esta poderia ter causado uma ausência de ar no cilindro de Poonan no fim do percurso e a consequente perda de consciência do ex-militar.
Mergulhos em caverna sempre exigem a presença de um cabo-guia para auxiliar no retorno ao local de partida. “Esse mergulhador pode ter perdido acesso ao cabo e se desesperado ou até ter acreditado que já estava próximo da saída, o que o teria levado a intensificar a respiração e assim esgotar o ar”, sugere o instrutor. “Quem faz mergulho em caverna precisa ter uma margem de segurança de quanto tempo vai levar, onde está e como será o percurso. Perder isso é um risco”. Além disso, a visibilidade também é um obstáculo. Dentro de cavernas ela costuma ser de 20 a 30 centímetros (em alto-mar não agitado e áreas de corais, visibilidade de 20 metros não são incomuns), no entanto, a água da caverna de Tham Luang é enlameada, prejudicando a visão.
Retirar os meninos e o técnico por meio do mergulho é a principal alternativa de resgate, mas a morte de Poonan põe em xeque a viabilidade do método. Outra possibilidade seria deixá-los em segurança na caverna até outubro, quando termina a época das chuvas de monções. No entanto, a previsão do retorno das tempestades no próximo domingo e a queda de oxigênio no interior da cavernapreocupa a equipe, pois o time pode não conseguir sobreviver por tanto tempo no local.
Outro problema é a saúde física e mental dos meninos e do técnico também: uma avaliação médica dos garotos – com idades entre 11 a 16 anos– e do treinador, de 25 anos, concluiu que o grupo está debilitado fisicamente pelos dias que ficaram sem se alimentar. Segundo o relatório, ao menos dois dos meninos e o técnico sofrem de exaustão. Além disso, nenhum deles sabe nadar.
Claudio Santos explica que, para mergulhar, o time precisa principalmente aprender a respirar de forma a economizar ar quando estiver em áreas profundas. Em situações normais, uma pessoa pode aprender o básico para mergulho com guia em aulas rápidas. No entanto, as condições em que se encontram os garotos não favorecem o aprendizado. “Crianças tem facilidade para aprender a respirar, mas é necessário ter o psicológico, [pois] eles não podem se desesperar”. Caso haja uma retirada, ela terá de ser lenta, provavelmente sendo feita com uma pessoa por vez.