Para os detratores, eles são ingênuos, desorganizados e sem ideologia. Os entusiastas veem neles ativistas virtuais, com potencial para mudar o cenário político nacional. A fim de evitar as críticas, dez grupos responsáveis pelas marchas anticorrupção que foram às ruas nos feriados de 7 de setembro e 12 de outubro decidiram unir forças. A primeira ação conjunta foi agendar um novo protesto para amanhã. Desta vez, o movimento planeja ações em pelo menos 35 cidades. Além disso, os organizadores preparam, via redes sociais, um ‘Manifesto Nacional’ para ser levado ao Congresso.
A criação do manifesto é uma tentativa de encontrar propostas no entorno das quais o movimento possa se congregar para acabar com uma das principais críticas ao movimento: a falta de demandas políticas claras. Uma página foi aberta no Facebook para que as pessoas decidam quais reivindicações devem constar no documento. Qualquer um pode opinar. Até ontem, havia mais de 100 sugestões na lista de propostas. As favoritas são a aprovação da lei que transforma corrupção em crime hediondo, a destinação de 10% do PIB para educação e o fim do foro privilegiado para políticos. Mas há quem sugira temas como ‘utopia’ e ‘internet free em todo o Brasil’.
‘Esse manifesto vai reunir várias proposições. A ideia é conseguir 1 milhão de assinaturas’, conta Daniella Kalil, que organiza os protestos em Brasília.
‘Todas as reivindicações são pertinentes, mas nós vamos ter de privilegiar as mais votadas’, arremata Chester Martins, do movimento carioca Todos Juntos Contra a Corrupção. Segundo ele, ainda não há prazo para a conclusão do documento. Por isso, as passeatas de amanhã vão se focar em três bandeiras: a defesa da Lei da Ficha Limpa, a punição mais severa para crimes de corrupção e o fim do voto secreto no Congresso.
Ceticismo. Apesar da tentativa de unificação, a forma como as marchas são organizadas – por redes sociais e sem líderes claros – ainda gera ceticismo em alguns analistas. ‘Nunca, na história, ouviu-se falar em uma revolução sem líderes’, critica o cientista político do Insper Carlos Mello.
Mas, para Gil Castello Branco, fundador de uma organização que fiscaliza os gastos do governo, é precisamente a falta de liderança institucionalizada que fortalece o movimento: ‘Desta vez nós não temos os sindicatos, as associações de classe, a UNE, não temos partidos políticos. Nós temos uma manifestação genuinamente da sociedade, independente, apolítica, que não pode ser comprada pelo governo nem com cargos nem com recursos públicos’.
Mello, contudo, vê poucas chances das manifestações contra a corrupção tomarem no Brasil as dimensões que protestos semelhantes ganharam no resto do mundo – como a Primavera Árabe e o movimento Occupy Wall Street. ‘No Oriente Médio, na Europa e nos Estados Unidos, a economia está afundada; nós, no Brasil, ainda não sentimos os efeitos da crise’, aponta.
fonte: O ESTADÃO